Primos e pares

Primos e Pares

Amanhã vou receber meus primos , virão para o almoço. No cardápio muito afeto e a vontade de reatar uma convivência que o tempo escasso nos roubou.

Ele é o primo da infância mas a nossa afinidade foi se reafirmando com o decorrer do tempo.

Ao olhar nosso percurso vejo a enorme diferença de vivências de cada um mas a irmandade permaneceu nas idéias e no afeto.

Com ele a prima adotada pelos laços de um casamento de muitos anos... e como gosto de ver a cumplicidade dos dois no olhar, nos gestos, na fala muda de quem se conhece muito e confia ainda mais. Difícil, nos dias atuais, ver um casal, um par!

Com ele vivi um dos momentos mais estranhos de minha existência. Conversávamos madrugada adentro debruçados em um janela e não sei como matamos nossa avó. Matamos, enterramos, velamos e por ela choramos em silêncio, num pacto de sofrimento antecipado. Vovó viveu ainda por muitos anos depois desta morte virtual encenada pelos netos mais velhos, e na sua morte verdadeira não me lembro de ter sofrido tanto quanto naquela ocasião.

Para os primos colocarei minha toalha mais bonita, meus melhores pratos e copos, os talheres natalinos. No centro da mesa um arranjo de flores que pretendo colher frescas no jardim, e na comida diet/ligth um capricho a mais na escolha dos pratos que acompanharão o vinho que eles trarão.

Como é bom receber amigos, conversar sobre os pratos, ter a intimidade para falar dos ausentes, relembrar cenas perdidas, ver fotos antigas e fazer planos para o futuro.

Bom demais, coisa para quem tem primos e pares!

Gilda Delgado
Enviado por Gilda Delgado em 12/06/2006
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