Primeiro Filho:Meu primeiro Poema Completo

Nesta data, 4 de janeiro,fui mãe pela primeira vez.Gravidez difícil cheia de equívocos médicos e ,durante o parto, uma EQM(*).Lembro-me de ter entrado num túnel ,desembocada numa luz mais brilhante que qualquer outra imaginável, ouvido cantos inimagináveis,sentindo cheiro de algo que parecia mentar,estar leve e feliz,mas ter pedido para voltar, pois ainda não vira meu primeiro rebento.Então, de alguma forma,estou ainda aqui e o irmão que nasceu dez anos depois também, por causa dele...

Amor à primeira e a todas as vistas.Plenifiquei-me de ternura.Meu pai passava pelo quarto e me via,permanentemente atenta, a olhar para o bebê lindo e comentava com mamãe que eu não conseguia tirar os olhos dele.

Moreno, de olhos grandes,segurou as grades do berço com força, já no primeiro dia.Quando veio para casa, ergueu a mãozinha que hoje dedilha o contrabaixo com precisão, e derrubou um cãozinho de pelúcia que eu fizera para ele...

Somos muito ligados.Até hoje ele se ressente de qualquer ausência minha.Como todos os filhos de mães que estudam ou trabalham-e eu fazia as duas coisas_tornou-se um carente para sempre...Ainda ontem, queixou-se:"Você sumia, mãe!"...É, eu precisava.Tentava qualificar o pouco tempo que passávamos juntos.Então, eu não o largava.Levava-o para a escola, ficando todos os dias sem almoçar, para ter tempo de ir com ele a brincar...Levava-o para a redação da gazeta Comercial, aos sábados e domingos, e enquanto fazia matérias, ele batucava na velha máquina de escrever...Tenho fotos, da época, uma criancinha de dois, três anos, trabalhando, como ele dizia.Igual à mamãe,contava para a avó...

Certa feita, eu fazia uma entrevista com uma pintora de Belo Horiznte que expunha quadros no sagüão do Clube Juiz de Fora.Enquanto respondia às minhas perguntas, ela desenhava, a bico de pena, borboletas marinhas, recorrentes em seus quadros:cabeças de afogados e/ou mergulhadores, não lembro bem.De repente, estrondo:em efeito dominó, lá iam os quadros caindo um a um,porque ele brincava entre eles enquanto a mãe o deixava por uma mulher loura...Queria chamar a atenção ou apenas se divertia?

Depois das reportagens de fim de semana, levava-o a almoçar.Eu já estava separada do pai dele e o dinheiro era curtíssimo.Pedia umprato executivo e mais umpratinho, dividindo com ele a refeição, para sobrar dinheiro para o sorvete...

Quando passei no vestibular de Psicologia,para o CES,em Juiz de Fora, jogaram amoníaco no meu cabelo e, para consertar o estrago dos trotes,pintei-o num tom avermelhado, chamado "pau-rosa".Ao me ver chegar toda arrumada, simplesmente foi para debaixo da mesa, onde tive de ir parar para ele se convencer de que era eu mesma...Eu esquecera disso, mas ele,que tem uma fantástica memória,noutro dia contava o caso no Orkut, onde há um grupo de mulheres com cabelos vermelhos.Aliás, acho que ele gostou...Atualmente, namora a Ro-Ro, uma bonita moça de cabelos ruivos.

Até hoje, nos entendemos com o olhar.Em meu primeiro livro, "Sombras feitas de Luz"(Plurarts editora),falo disso

Alless e eu

-Meu filhinho,

por que nesse dia tão frio,

você está descalço?

-Mamãe,meu pé está com calor,

responde o maroto

e respeito esses pezinhos compridos

que escapam daos sapatos...

Lembro o ditado engraçado:

"Mãe com frio, criança agasalhada"...

Desenho caracóis,

desenho pequenos ratos,

bigodudos e bem simpáticos

-e você, cria super-heróis.

futuro desenhista...

Conto histórias,você escreve poesias,

eu escrevo outras...

E o tempo passando...

Hoje,ao acordar,lembrei

que você é homem agora

e continuamos a nos entender

a partir de qualquer toque,

de qualquer troca de olhares...

******************

Nosso entendimento era mesmo perfeito.Certa vez,ele estava aprendendo a ler/escrever e eu já não precisava desenhar os recados com os personagens , da família de caracóis que deixava ao sair cedinho para o antigo INAMPS(escove os dentes, vá para a casa da vovó...)Então escrevi, com letra caprichada e bem legível:

Filhote:

Assim que acordar, tire o pijama,escove os dentes e vá para a casa da vovó...MAS NÃO DEIXE SUAS ROUPAS ESPALHADAS.

Quando cheguei, ele pegara seu lápis e escrevera, ao ver as maiúsculas;

"Não precisa gritar"

Ri muito.Realmente eu me irritava quando chegava à noite, após a faculdade e achava coisas pelo chão...

meus pais moravam na outra esquina e ele já se sentia um homenzinho, então eu economizava tempo indo direto para o ponto do ônibus sem ter de levá-lo,primeiro para a avó,que o adorava...Bons tempo.Hoje, seria um perigo...

Ele é músico, bass-man, tenaz,nunca desiste de seu ideais.Com o mano, meu segundo poema em carne-e-osso,é um irmão-pai, pois têm dez anos de diferença.A cabeça desse moço vive criando...Toca e compões horas, horas...Ou desenha,desenha...De vez em quando, puxo o cordão de sua alma que anda a voar feito pipa em céu azul:

-Vá almoçar, menino...

Pois, para mãe,o filho é o eterno menino...Ainda mais para quem bordou,a quem amamentou,por quem perdeu noites de sono a velar,ou apenas para olhar à toa, transida de amor... a quem acalentou...

Parabéns, minha criança trintona!Quando será que vai me dar uma netinha?Eu vou adorar...e se for outro pequenino, tudo bem:já tenho mesmo experiência com garotos!

Um beijo, meu capricorniano lindo!

Belo Horizonte,04/01/2005

EQM:TERMO MÉDICO-(EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE)