Realidade

O casebre quase que não se segurava em pé, o telhado então, só algumas telhas quebradas por onde o sol penetrava traiçoeiro trazendo de volta mais um dia de inferno. Ao redor apenas pedras, cactos e uma aparência de seca, de deserto.

De repente, escuta-se um bater de panelas, um sussurrar de uma praga, uma porta se abre e no cenário adentra uma mulher raquítica, de pele escura, cabelos desalinhados, avermelhados pelo sol, uma típica figura nordestina.

Ela segue com uma lata num caminho sem fim, em busca da tão procurada água. Atrás dela saem três crianças magras, cabisbaixas e de olhos vazios. Numa fila indiana, formando uma escada, armam-se com uma lata, e num gesto mecânico, acompanham a mãe.

Em casa, uma quarta criança, a mais velha, cuida do bebê, que agora esgoela-se, como que numa súplica por comida. Ela já não sabendo o que fazer, pega o bebê e sai a procura do pai que passa os dias sentado no terreiro, olhando para o céu, como que a espera de chuva. Ele nada mais pode oferecer a seu filho que uma papa de raspa de mandioca, o bebê ingere a substância ofensiva e num piscar de olhos, vai mudando de cor e perdendo sua vida.

Da janela avista-se a mãe e as outras crianças, trazendo a desilusão e nada mais, nada de água, nada de comida.

O pai leva as mãos à cabeça e, de repente, sai correndo no meio do mundo, enlouquecido com a situação. A filha mais velha, olha no canto da casa, onde num pequeno altar uma vela queima aos pés de Padre Cícero, e num gesto de desabafo, enquanto rola uma lágrima dos olhos e seu irmãozinho dá o último suspiro, ela joga a estátua do santo no chão, transformando-a em mil pedacinhos, tentando mostrar que tudo tem limites, inclusive a fé de quem, por muitas vezes, parece ser esquecido até mesmo por DEUS.

Cinthya Danielle dos Reis Leal
Enviado por Cinthya Danielle dos Reis Leal em 17/05/2005
Código do texto: T17520