A ÚLTIMA ESTAÇÃO

Outro dia, numa estação de trem, deparei-me com um senhor absorto, reflexivo, provavelmente ruminando algumas mal-sucedidas empreitadas.
Com uma passagem na mão, ele não se dava conta de que várias composições ferroviárias já tinham passado. A última se aproximava.
Também não percebeu que, devido ao exíguo tempo, deveria desembarcar na próxima estação. Dezenas havia depois dela e ele tinha direito de conhecê-las caso embarcasse antes. A validade do bilhete só alcançava a seguinte, entretanto.
Ao consultar o relógio e perceber o céu escurecido, seus olhos marejaram.
Possivelmente, imaginou quantas aventuras e amores diferentes poderia ter vivido em cada parada.
Quantas paisagens e pessoas interessantes poderia ter conhecido.
Quantas conquistas poderia ter obtido.
Enfim, o que poderia ter feito se não ficasse ali, inerte, pensativo.
Nada disso era mais possível. O cenário que viu durante o dia inteiro foi o movimento daquele local. Passageiros que tocavam a vida em frente. Gente que ia, gente que chegava, despedidas, reencontros, coisas do gênero...
A ele, o que restava era uma estação. Apenas uma estação.
Trem derradeiro. Desembarque derradeiro.
Apito final. Fim de jornada.

* Qualquer semelhança com a nossa vida não é mera coincidência.