ARQUÉTIPO

Segredos. Eles são feitos para guardar? Serão para espionar? Ou para gritar ao Mundo num ato de loucura, numa noite insólita, não sóbria, e sim solitária, guardados nos lençóis da escuridão, úmidos de suor e lágrimas. Às vezes só pela dor nós refletimos e conseguimos nos exprimir, pois a felicidade pode ser enganosa, contudo, a tristeza nunca é.

Os segredos, na minha concepção, são a ligação entre o passado e o futuro. Algumas pessoas pensam que são somente sua autoria e tendem a guardá-los para que, lá na frente, sejam ouvidos, memórias sem lembrança. Outras reconhecem que é o inconsciente coletivo, o universal, na mitologia repassada boca a boca, onde os antigos guardavam sem egoísmo, mas com cuidado, para no futuro relembrar a sabedoria, dádiva, algum ponto de inspiração. Memória de Deus. Tudo tem sua hora e não há segredo eterno. Uma multidão não consegue guardar seus segredos, pois eles tem seus desejos de repassar detalhes herméticos de uma dada civilização. Nunca guarde uma grande história, pois ela pode ser de grande valia para a humanidade, talvez não daqui a um ano, ou uma década, nem num milênio. Mas estará sempre lá para ser consultada, expirada, respirada e, através dos pulmões soltada, movidas por palavras ou dedilhadas. Nos momentos mais difíceis da vida elas aparecem. Talvez na loucura segundo Yung. Num Mundo onde cada vez mais pessoas estão sendo internadas em hospitais psiquiátricos e, neste novo milênio, aquelas que estão fora dele, e se acham em perfeita sanidade, pedem que a Natureza seja sã depois de atitudes obtusas. Pois são nestas horas

que a Natureza não mostra sinais de sobriedade, loucura, vingança ou imaturidade. Mostra apenas revolta, por não querermos ser Um. Uma história para elucidação:

Sophya desde adolescente guardava seus segredos em um diário. Um pequeno livro que continha grandes verdades. Eram as suas verdades, sua visão do mundo e de todas as pessoas que conhecia.

Ela foi envelhecendo e cada vez era uma nova página, um novo marcador, uma nova passada de língua no seu dedo indicador, pois ela queria, na sua intimidade, que o que escrevesse fosse eterno para si.

Não era o caso de ter reconhecimento, mas, num dia de depressão já adulta após o seu marido a abandonar e com medo da morte, passou seu SACRO SEGREDO para um amigo de uma gráfica. E, depois de um bom tempo tendo passado e bastante doente, resolveu olhar para sua janela para verificar a barulheira que vinha da rua. Eram repórteres querendo entrevistá-la. Seu amigo da gráfica estava lhe acenando para descer. Ela com poucas forças deu um visual na aparência, não era só questão de vaidade feminina e sim um sopro de felicidade que ia até seu ouvido. Ela já intuíra o que já lhe esperava. Abrindo a porta seu amigo logo lhe abraçou e lhe disse: Seus segredos eram sonhos pedindo para serem lidos, então tomei a liberdade de que seus sonhos não se tornassem cúmulus de nuvem pronto para chover, e sim, que as estrelas fossem vistas a olho nu. Ela emocionada lhe disse: os pensamentos são eternos e era a única coisa que esperava levar para o túmulo, mas você fez o que tinha de fazer. Muito obrigada- Disse em tom de choro- meus escritos eram como arquétipos para mim, pois o verdadeiro significado desta palavra é SEGREDO.

Milton Roza Junior
Enviado por Milton Roza Junior em 17/08/2009
Reeditado em 25/10/2011
Código do texto: T1758480
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.