EU TE AMO. NEM QUE SEJA PRO ESPELHO

Algum mané aí que não me lembro se era poeta, cronista, escritor ou que diabos seja, disse que tinha que se tomar muito cuidado ao dizer "eu te amo". Que a frase, dita a primeira vez, era acompanhada de uma emoção e uma energia toda especial e única. Mas que a partir daí, todos os outros soariam apenas como um repeteco, como um "oi, tudo bem, como vai sua mãe?". Juntei a isso uma lembrança que trago de muitos anos atrás. Algo que ouvi de uma mulher que naquela época me parecia interessantíssima.

Dona Jussara é mãe de uma amiga minha. Bonita, além da conta, a beleza era quase um fardo:parecia que estar permanentemente bela desde quando acordasse. Cabelos impecáveis, unhas feitas, roupas em ordem. Via-se que o marido mais que amá-la, tinha-lhe uma espécie de adoração. Eca. A gente adora ídolos e não pessoas. Mas era assim. E ela achava aquilo o máximo. Eu, na minha burrice típica de fim de adolescência,talvez também achasse. Não lembro direito.

Mas lembro bem dos discursos dela sobre como conquistar e, principalmente, como ela mesma gostava de dizer, "segurar" um homem. E a primeira regra era ter mistérios. E o primeiro mistério era o de nunca dar a ele a certeza do seu amor.

- Meninas, se vocês vão entregando o que sentem, estão nas mãos deles e aí perdem o interesse. Eles é que tem que estar nas nossas mãos.

Talvez, dona Jussara. Talvez. Mas eu sempre fui o tipo de aluna que questiona tudo que o professor diz.

Não vejo graça em "segurar" alguém. Isso me lembra prisão. E eu tô fora. Vou dizer todos os "eu te amo" que tiver vontade. Até porque só digo se estiver sentindo. E me faz um bem danado.

E se o moço achar que enjoa de tanto ouvir, se ficar de ego inchado por isso, então ele não é quem eu pensava. E neste caso, é melhor eu cantar minha canção romântica em outra freguesia: diante do espelho. Porque este não enjoa nunca.

Débora Denadai
Enviado por Débora Denadai em 18/05/2005
Código do texto: T17642
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