Filosofar?

Cristina Arraes Moreira

Tenho escrito neste site, com uma característica reflexiva. Bom pensar sobre isso. O que me leva a escrever, à primeira vista, são idéias com um cunho filosófico. Muita pretensão? Não, se coloco este propósito no dia. E o que seria esta filosofia, conceituada, aclamada, respeitada e mantida longe do nosso dia a dia? Quando se pensa nisso, lembra-se, não sem razão, dos grandes pensadores que contribuíram para um raciocínio lógico e que, para isso, dedicaram suas vidas estudando, argumentando sobre um arcabouço que me faria sentir incapaz de tal participação.

Mas entro agora numa esfera, que me põe muito mais à vontade de me exercitar em tais divagações. Falo de uma filosofia associada ao dia a dia, nas pequenas ações, na rotina, em nossos relacionamentos, nas opções profissionais, em atos simples, mas que opto por desenvolvê-lo de forma mais profunda, racional, compreensiva.

Falo de uma filosofia natural, que brota do coração e da consciência de que não somos meros repetidores de ações, às quais não se vê vinculado nenhum sentido, propósito ou mesmo um projeto maior. É simples. Por exemplo, na minha atividade como pesquisadora, tenho diversas tarefas a desenvolver para finalmente perceber um trabalho concluído. O fato de manipular dados estatísticos pode me parecer uma etapa quase manual, quando a vejo de muito próximo. Distancio-me então, e percebo que não estou construindo uma simples tabela, naquele momento, estou principiando um projeto maior que terá, como conseqüência, a conclusão de explicações socioeconômicas que contribuirão para o entendimento de nossa realidade atual.

Estou me referindo a esta filosofia. Descrevo pequenas ações, mas com uma visão distanciada do imediatismo que nos é imposto por uma sociedade que tem pressa. É como se pensássemos: é para fazer, executamos logo então, não importa para que, porque, qual o sentido de nos vermos envolvidos com semelhante trabalho.

O mesmo se aplica para questões mais íntimas, coisas do coração, que nos faz experimentar sensibilidades, angústias, ansiedades. E vamos vivendo com elas, sem nos dar conta que isto nos mata, pouco a pouco. Gosto de perceber o que se passa em minha alma, que determina como estou vivendo. Ás vezes a angústia não é ruim, me leva a refletir. Presenteia-me com momentos de silêncio e assim encontro a mim mesma.

Muitos pensadores defendem a idéia de que todos somos um pouco filósofos. Concordo. Só que nem sempre, as pessoas se permitem discordar, pensar, mergulhar dentro de si próprias. Ficaria feliz se encontrasse, com meus textos, disposição e outros corações a começar a fazê-lo.

Apaixonei-me por esta filosofia. Aquela, sem grandes pretensões, simples, que me explica porque estou aqui, qual o sentido de tudo que faço. Porque esta vontade imensa de ser feliz, o que seria esta felicidade. Moro no Rio de Janeiro. Uma das atividades que mais aprecio é caminhar à beira do mar. Passeio muito no Aterro do Flamengo, onde se pode apreciar o céu, o mar, as montanhas, as árvores, plantas, pássaros cantando. Haveria alguma possibilidade de tudo isto estar ali, mexer com minhas emoções, sem algum propósito? Para mim, acho que não. Quando muito, para me fazer pensar. E me fazer sentir a alegria de uma obra divina que se renova e da qual sou co-participante.

Bem, é assim que vejo a minha filosofia, uma verdade particular, única, intangível e infinita. Sensível ao meu coração. Viajo por ela, sonho, faço projetos, mas também olho para trás. E vejo um longo caminho que foi percorrido, cheio de encontros, alegrias, dissabores, opções, mas com um sentido a ser explorado. E o presente me permite isto. Uma história de vida que faz sentido. É preciso encontrá-lo, aos poucos, devagar, compondo a grande missão, que cada um recebe e que desempenha, sem nem mesmo saber por quê.

Portanto procurar é uma das grandes metas. Filosofar. Sem grandes pretensões, sem expectativa, com esperanças.

Filosofar, no momento, de forma simples, dando valor a cada passo, tornou-se imprescindível. Minha alma fica latente, meus desejos mais claros, minha alegria mais plena, minha consciência povoada pelos grandes e pequenos momentos, povoada por tudo e por todos.

Filosofar, desta forma, me completa o verdadeiro sentido.