OS PRÊMIOS DE UM ESCRITOR

“M” (78 anos), professora formada, mas que não chegou a exercer a profissão, era categórica em afirmar que não gostava de ler. Por falta de concentração ou pura preguiça, não sabia. Apenas as receitas culinárias e as notícias dos “famosos” conseguiam sua atenção.

“R” (32 anos), estudou pouco e foi ao mundo. Os livros que lhe passaram nas mãos foram os do tempo do colégio. A leitura posterior foi obra mais do acaso do que da escolha.

“F” (28 anos), universitário e escritor, é afeito à poesia forte e destemida, própria do seu tempo.

O que eles têm em comum?

“M” jamais imaginou que aquela pessoa que ela mesma gerara escrevesse. Muito menos, que fosse capaz de criar personagens e uma história que enchesse mais de trezentas páginas! Por curiosidade deu início à leitura e se viu tragada por uma trama que chamava mais e mais. A vista cansada obrigava a parar, mas logo estava lá, livro nas mãos, mergulhada naquele universo, misto de sonho e realidade.

“R” ganhou o livro de presente de quem o escreveu. Folheou aquele universo desconhecido, avaliou aquelas incontáveis páginas e pensou: “Vou ter que ler isso tudo e ainda ter que dizer o que achei...”. Por pouco não desistiu, mas estava acostumado aos desafios e aceitou. Começou e não conseguiu parar. Sentiu afinidades, identificação com pessoas e fatos. Arriscou até uma crítica.

“F” leu num fôlego só. No final, comovido, confessou: “sempre fui um grande apreciador de romances, sempre me apaixonei e desapaixonei por todos os personagens, mas...”.

O que eles têm em comum?

Um livro chegou em suas mãos e por razões diversas, leram. Foi necessário este primeiro movimento para desencadear o resultado. Se não houvesse o escritor, a história não se faria. Sem ela, não haveria o livro. Se ele não lhes fosse disponibilizado, seja por livre e espontânea vontade ou por doce pressão, permaneceriam em sua inércia literária, relegando a último plano aquele privilégio de ler e sonhar. Por que não?

O livro é, sem dúvida, o elemento transformador do indivíduo e, os autores, agentes insubstituíveis da cultura de um povo.

“M” aderiu aos romances e já é íntima de Machado, Alencar, Orígenes e de tantos quantos vierem.

“R” entrou num “sebo” e comprou um livro de auto-ajuda. Ficou impressionado com o fato de poder comprar um livro por um preço tão pequeno.

“F” prossegue entre a prosa e a poesia. Gravada em seu coração, a história tão real daquele romance aparentemente fictício. Registrado no coração de quem escreveu, o comentário emocionado do jovem leitor: “sempre fui um grande apreciador de romances, sempre me apaixonei e desapaixonei por todos os personagens, mas amigo só me tornei de um: Afonso”.

Maria Luiza Falcão
Enviado por Maria Luiza Falcão em 20/06/2006
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