Apenas um breve desabafo

Faz tempo que não escrevo. Para algumas pessoas, isso pode não significar nada, mas, para mim, significa muito. Esse cursor que insiste em piscar na minha tela, desaparecendo e aparecendo de novo, estático, me dá nos nervos. Antes, ele se movia a uma velocidade razoável, e, se ora parava, era porque a autora estava em confabulação mental sobre determinado trecho mais digno de atenção. Ou, se voltava, se subia e descia parágrafos, ou se percorria linha inteiras voando, era eu que voava pelo meu texto, passeando pelas minhas palavras, minhas criações, talvez minhas filhas, ainda que mal formadas, minhas. Agora, não há texto. Ele apenas pisca. E eu me pergunto o que terá acontecido comigo.

Alguém pode dizer que ando sem idéias. Francamente não sei. Talvez tenha é mudado meu relacionamento com elas. Afinal, sempre fui escritora de impulso. Se tenho um gozo imenso em lapidar meus textos, em tentar criar teias que prendam e fascinem o leitor, é que compenso, com trabalho, a parte de mim que é pura fúria: minha inspiração.

Alguém aí sente isso? A inspiração divertindo-se às suas custas? Não me sento para escrever. Sento depois que já estou escrevendo. Minhas idéias vêm em turbilhão, emaranhadas, fragmentadas, e, invariavelmente, nos piores horários. Se estou prestes a pegar no sono, é tarde e tenho que acordar cedo,vem-me um trecho de diálogo que não sei de onde saiu. Se estou atrasada e passo de relance no espelho, uma expressão pede que volte e surge um embrião de verso. E deve ser tomada a decisão: escrevo ou não escrevo? Paro tudo e fico aqui? Perco a hora, perco o sono, deixo que me chamem de louca no meio da rua para tomar minhas notas?

Inspiração não espera. Pelo menos a minha, quando aparecia, não esperava. Agora, ela até que vem, mas tão tênue e morta, que não é a paixão de antes, não é minha literatura de antes.

Ainda tenho uma ou outra idéia, mas nada que ache digno de escrita, e mesmo que, no final das contas, pegue no papel, só saem desastres. Talvez tenha cometido o erro de ler muito e escrever pouco. Acabei me perdendo nas palavras dos outros e esquecendo as minhas.

Essa preocupação com os outros muitas vezes mata o escritor. Diante de figuras como Dante, Goethe, Lispector, e outros nomes imortalizados, a gente se sente um nada e acha que nada do que produzir jamais chegará aos pés deles. E então a gente acaba sem produzir nada, para evitar comparações. Ou faz como eu, que, com medo da literatura, acabei escrevendo resenhas. Nada contra resenhas. Mas penso seriamente em voltar aos contos e me aventurar na poesia e o Edgar Alan Poe e a Florbela Espanca que me perdoem.

Tudo o que eu quero é me sentir uma escritora de novo. Mesmo que eu seja ruim. Já não me importo.

Jéssica Callou
Enviado por Jéssica Callou em 21/06/2006
Reeditado em 22/06/2006
Código do texto: T179959