Tempestades

Já aconteceu de um dia você acordar e achar que tudo estava perdido e que a tal da luz no final do túnel nunca existiu? Pois bem, comigo tem acontecido muito isso. Eu levo uma lambada atrás da outra, dia após dia, chego em casa arrasada, destruída por dentro. Choro até cansar, me perguntando onde está a tal da justiça. Vejo tudo escuro, sem saída. E então, do nada, uma solução aparece e eu continuo minha caminhada. Confesso, no entanto, que isso está me cansado. Muita gente que me conhece já deve ter se perguntado como posso suportar tanta coisa em meus ombros. Parece que carrego um mundo. E é inútil! Nada que eu faça parece ter efeito no que quer que seja. Não fazemos as nossas coisas por recompensas, mas será que precisamos nos doar tanto e esquecer que o fizemos? Pode parecer interesse próprio, vontade de aparecer, whatever, mas será que uma gotinha de reconhecimento não elevaria nossa alma e nossa força um porquinho mais? Até onde vai a nossa “obrigação” de recusar a gratidão, o afeto, o brilho nos olhos de quem agradamos e amamos? Até deve ir a nossa humildade? São perguntas que chegam à minha mente todos os dias agora. Antes eu não atingia esse nível. Eu caminhava pela fé. Isso era bom, mas cultivou em mim uma inocência que eu não deveria ter. Ser inocente no mundo atual infelizmente significa sofrimento dobrado. Ser bom hoje em dia não é mais uma boa qualidade; ser bom em nossos tempos é ser um joguete nas mãos dos que são considerados eficientes, mas nada mais são do que espertalhões com uma visão maliciosa do ser humano. O pior de tudo isso é que aquele que tem um instinto para o que é puro e nobre morrerá assim. Por mais que as questões sobre justiça atormentem seu coração, não mudarão seu jeito de pensar e agir. Esses não são para este mundo. Esta dimensão já não serve mais para essas almas torturadas e ao mesmo tempo tão brilhantes. Então acontece a fuga. Esses seres refugiam-se em seus sonhos, que provavelmente nunca verão se realizar, mas que crêem profundamente que o mundo ainda pode ser perfeito e as pessoas têm suas oportunidades para serem felizes guardadas em algum cantinho. São seres, como eu, que crêem que almas gêmeas existem e que, de repente, em alguma esquina da vida, vão se deparar com elas. Pessoas como eu, que caminham em tempestades, lutando contra fortes ventos e, mesmo assim, amando a cor acinzentada do céu que nos cerca, adorando ser envolvidas pela ventania, entregando o mais puro dos sentimentos à humanidade: Amor.

Rita Flôres
Enviado por Rita Flôres em 16/09/2009
Reeditado em 08/02/2017
Código do texto: T1813731
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