PASSEANDO PELA VIDA


Passei quatro dias num hotel fazenda em plena serra dos órgãos, No Rio de Janeiro com o objetivo único de descansar. Ninguém conhecido, nada de celular (até porque não funciona por lá), nada de televisão, nada de nada (ou tudo de tudo), apenas natureza e boa leitura.Bem foi esse meu objetivo, mas o que eu não sabia é que a realidade pode criar outras expectativas que no fundo, repousam no nosso imaginário, mas perdemos a disposição de procurá-las em razão da inexistência de algo que as torne papável. As primeiras horas que lá cheguei serviram para reconhecimento geral, piscinas, tênis, futebol, sauna, cavalo, enfim, tudo o que se espera de um bom hotel fazenda, além é claro, de pessoas. Muita gente, que depois de algumas horas se tornaram gente amiga como se nos conhecêssemos há tempos.
Pois é, nas cidades a gente se cruza, pouco se fala e muito se atrita. Um \"bom dia\", geralmente só é dado para pessoas conhecidas, um sorriso franco e aberto então? Quem sabe para bons amigos e parentes, Mas lá não, do despertar até o café da manhã, são vários os “bom dia” e “como vai?”, cumprimentos simples mas infelizmente, cada vez menos usuais no nosso dia a dia. Encontrei gente com mais idade disposta a dividir experiências vividas, sempre em tom de alegria, porque não
cabia tristeza alguma para falar, não cabia saudade, apenas lembranças de tempos passados há segundos, tempos que se renovam como se tudo parasse pra gente vive-lo por inteiro cada momento uma eternidade. Por outro lado, gente muito mais nova, mas sempre com um convite nos olhos: Vem comigo viver novamente, vem fazer outra vez aquilo que imaginavas coisa do passado, vem ver como hoje não faz diferença apesar dos pesares. Isso tudo estava ali como lição de vida, exemplo de convivência, seja com o semelhante, seja com nos mesmos, parte inseparável da natureza. Pra quem gosta de lirismo é perfeito, pra quem não gosta, perfeito da mesma forma. Seja qual for o objetivo, o contato direto com um mundo livre das nossas grandes contribuições cientificas, faz acender ou reacender um elo perdido na infância, uma liberdade e espontaneidade de brincar, de correr, de falar, cantar e até dançar sem compromissos, liberdade advinda da despreocupação com o dinheiro, mesmo que por conta dele, ali estejamos. Talvez esse paradoxo seja a resposta para essa incrível mudança de comportamento, o tempo de fazer dinheiro e o tempo de gastar dinheiro, ou por outra, a forma correta de gasta-lo. Bem, mas o assunto que vale mesmo e que me fez parar um tempo para escrever é a satisfação de ter passado um tempo com enorme felicidade, cercado de amigos desconhecidos, respirando um ar com aroma de mato e me inspirando a cada minuto com a sensação gostosa de sentir-me vivo e sonhador em meio ao mundo que, muito provavelmente foi o idealizado pra gente viver.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 29/06/2006
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