AGÊNCIA REGULADORA DO SERVIÇO DE ÁGUA E ESGOTO

LB. economista, residente e domiciliada em qualquer cidade do Brasil, divorciada, mãe de três filhos e arrimo de sua mãe, uma senhora com 74 anos de idade. Há alguns meses, LB. foi vitima do famigerado “Overbooking”, palavra em inglês que pode ser traduzida, sem medo de se cometer injustiça, por estelionato ou má fé. Para aqueles que desconhecem o termo, além da tradução supra, pode-se acrescentar que é o ato rotineiro que algumas Companhias Aéreas cometem e que consiste em vender mais bilhetes que os lugares disponíveis em suas aeronaves. (Imagine, meu caro Otaka, se você decidir vender mais cenouras que sua banca de feira comporta ...)

LB. mãe de três filhos e arrimo e sustento de sua família, demitiu-se de um Banco por puro instinto de conservação. Pressentiu que sucumbiria à pressão que lhe era imposta pelo mais puro e abjeto “Capitalismo Selvagem”. Após decidir que era mais importante que o salário que lhe era pago em troca de seu sangue, demitiu-se e para continuar ganhando a vida recorreu a uma Agência de Recolocação de Executivos que lhe prometeu vender o serviço de assessorá-la na procura por vagas e no encaminhamento para potenciais empregos. Promessa vã, pois a dita Agência só lhe fez duas indicações (ambas com vestígios de fraudes) durante um ano.

LB. arrimo de família, divorciada e economista com dois Pós Doutorados constatou com um simples olhar que os juros cobrados pelo Cartão de Credito eram 200% maior que o anunciado e contratado. LB. tentou falar com o Banco e após ouvir nos SAC da Instituição todo o rotineiro festival de “estaremos verificando, senhora”, “estaremos providenciando, senhora” e outras “pérolas” que abundam nos Telemarketings da vida e nalgumas redações de alunos candidatos no Enem e nos Vestibulares, teve o desprazer de ouvir que uma pobre (em todos os sentidos) atendente iria ensinar-lhe (sic) a calcular os juros. Seria hilário, se não fosse trágico.

Arrimo e sustento de sua família, LB, como quase todas as brasileiras, exerce dupla ou tripla ou quádrupla jornada de trabalho. Primeiro em casa, depois no trabalho externo e, novamente, em casa. Dia puxado que normalmente se inicia as 5h00 e só termina perto das 23h00. Rotina difícil, mas que em meados de Maio do ano passado ficou muito pior. Por motivos que até Deus desconhece, a agencia bancária que recebeu o pagamento da conta de água que LB fez pontualmente, não o repassou para o Serviço de água da cidade. Então LB, sua mãe com 74 anos e seus três filhos passaram dez dias sem poder tomar um simples banho, sem poder usar o banheiro, sem poder contar com a água para lavar o rosto e só não se diz que sem poder beber, pois para isso é que abundam as empresas engarrafadoras que além de pagarem os impostos regulamentares, dizem, ajudam outros movimentos que não se sabem se são sociais ou ilegais.

Nos três primeiros casos, LB buscou seus direitos em diversos órgãos. Em relação à Companhia de Aviação recorreu ao DAC; quanto ao engodo da Agência de Recolocação de Executivos recorreu ao PROCON e quanto ao Cartão de Crédito super faturado queixou-se ao BANCO CENTRAL. Nos três casos encontrou burocracia, inaptidão, talvez alguma boa vontade e bem ou mal, alguma solução. Quando o problema foi com o Corte Indevido de Água LB sentiu-se menos ameaçada, pois seu raciocínio matemático logo lhe indicou que haveria lógica na questão. Pois se todos os outros serviços contam com alguma AGENCIA REGULADORA, e embora sejam importantíssimos não são mais preciosos que a água, o que dizer então do SERVIÇO ESSENCIAL da AGUA. No primeiro momento LB acalmou-se ante essa perspectiva: É CLARO QUE POR SER UM SERVIÇO ESSENCIAL, SENÃO PRIMORDIAL, QUALQUER UM QUE LHE ROUBASSE O DIREITO DE CONSUMIR A ÁGUA QUE JÁ PAGARA SERIA SEVERAMENTE PUNIDO.

E dentro desse otimismo que a caracteriza, além dos belíssimos olhos e longos cabelos louros, LB dirigiu-se (ou pensou fazê-lo) à AGENCIA REGULADORA das PRESTADORAS dos SERVIÇOS de AGUA e ESGOTO. Básico. Se era um produto vital, um órgão competente o resguardaria. Contudo, teve que parar no meio do caminho por um motivo também básico: NÃO EXISTE Agencia Reguladora dos Serviços de Água e Esgoto. E nos casos, como o de LB, a queixa pelo furto sofrido deve ser registrada ou na Delegacia de Policia mais próxima ou não Justiça que lhe parecer menos lenta. LB optou pela segunda. De mal grado, todavia. Não lhe entra no raciocínio lógico de brilhante economista como é que se pode deixar milhões e milhões de brasileiros à mercê de burocratas que se não são desinteressados são incompetentes.

LB fez cara de indignação e entrou, como já se disse, na Justiça e estima que ganhará a demanda e fará com que o Serviço de Água e Esgoto devolva o que lhe roubou. E se possível, tentará ser ressarcida pelo tempo que perdeu, que seu filho perdeu quando foi obrigado a não ir trabalhar para apresentar a conta devidamente paga no vencimento. Ou seja, quando teve que apresentar a prova de que a vitima era ele e não quem lhe furtou. Mas, como já se disse, o otimismo é característica de LB e ela tem plena confiança que os Nobres Políticos estão cônscios de que são Funcionários Públicos e que devem zelar pelo bem estar de seus patrões. Traduzindo: todos nós que lhes pagamos os salários através de nossos impostos, que aliás, no caso de LB, atingem a inacreditável marca de 433% em relação ao seu consumo de Energia Elétrica. Mas essa é outra história, pois não devemos interromper o otimismo de LB e devemos, sim, fazer-lhe coro quando ela exige que seus Congressistas FAÇAM (com urgência urgentíssima, certos Nobres Parlamentares) COM QUE SEJA CRIADA A AGENCIA REGULADORA DOS SERVIÇOS DE ÀGUA E ESGOTO.

Até porque, é certo que existirão milhões e milhões de brasileiras que nem podem exercer esse direito básico que ora esse humilde escrevinhador exerce: indignar-se.

LB - é mais que orgulho, você me dá a sensação de que a vida vale a pena.