FLAGRANTE DELITO  (EC)

 
                       
Pois é meus amigos, depois de uma certa idade as mazelas nos chegam de assalto e não temos como fugir delas. Cada dia surge uma dor nova, alguma coisa que incomoda sem que possamos definir bem o que é. Nem adianta se queixar, porque as queixas acabam passando despercebidas - cansaram os ouvidos de quem as ouve.
 
                        Faz é tempo que tomo, diariamente, remédios para controlar a pressão, o colesterol e a tireóide. A esses vieram somar-se mais três: um para a arritmia e os outros dois para afinar o sangue. Isso depois que senti uns cavalos galopando no peito quando estava na aula de dança, por volta do mês de março. Daí, faz exame disto, faz exame daquilo, acabei por fazer uma angioplastia com implante de dois “stents”. Essa a razão dos medicamentos que vieram somar-se aos que já existiam e devo tomar por não sei quanto tempo. Na realidade me sinto totalmente insegura, porque não sei se o tal “negócio” está mesmo funcionando como deve ser. O jeito é rezar e confiar.
 
                        Ainda por cima, estou, também, com diabetes: quer dizer além da queda, coice. Fiz até um cursinho na UNIMED para ficar mais informada sobre a doença. Agora não compro nada sem esquadrinhar o rótulo antes. Para controlar melhor os índices de glicemia comprei um “glicosímetro”, mas quem disse que me atrevo a usá-lo? Não tenho coragem de, eu mesma, espetar meu próprio dedo. Com tudo que me é proibido comer,  por conta também de uma síndrome do intestino irritável, qualquer dia vou ficar a pão e água... e isso se o pão for “diet”.
 
                        É difícil conviver com essa limitação e um dia destes, atacou-me um desejo incontrolável de comer alguma coisa doce. Não havia ninguém em casa (um filho mora comigo) assim não tive dúvidas. Parti para a cozinha e preparei um brigadeiro daqueles bem puxa-puxa. Que delícia! Vou matar esse desejo, pensei na maior euforia.  Mas quando já ia atacar a panela escutei um ruído e ouvi alguém dizendo: “ Mãe! O que você está fazendo?”
 
                        Ah! Meu Deus! Fui pega em flagrante delito com a mão na massa ou, melhor dizendo,com a boca na botija!
 
                        Ninguém merece.



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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Flagrante Delito.

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