Vestidinho cor de rosa da fama

O que motivou centenas de estudantes na perseguição a Geisy Arruda pelos corredores da Unibam? O curto vestido cor de rosa? Quase toda mulher de 20 anos usa vestidos tão ou mais curtos que aquele. O comportamento da moça? Mas que comportamento? Ela simplesmente foi à faculdade vestindo o que achou que deveria vestir. A beleza e as formas da acadêmica? Geisy não é tão bela e suas formas deixam a desejar.

Culpa do inconsciente coletivo? Sim. O inconsciente coletivo pode ter desencadeado a turba. Alguém grita: “Olha lá!”; outro diz: “Que coisa!”; um terceiro, pra não ficar fora do contexto, comenta: “Um absurdo”; quatro ou cinco, ali perto, se levantam fazendo troça; trinta, da sala em frente, vêem o movimento, olham para onde os outros olham e alguém exclama: “É puta!”.

Pessoas que estão pelos corredores engrossam fileiras. Alunos, com celulares e câmeras fotográficas saem das salas de aula. A pressa de colocar o “furo” no YouTube está na cabeça oca dos jovens universitários. Professores, pegos de surpresa, não entendem o que se passa. A galera se agita.

Agora são centenas. Homens e mulheres apedrejam Geisy moral e socialmente. Sem saber do que se passa por ali, muitos, andares acima e abaixo, gritam, xingam, sacaneiam. O importante é participar da bagunça.

Alguém alerta a mocinha do curto vestido cor de rosa: “Não saia do banheiro”. A turba grita: “Aparece! Aparece!” Dois jalecos surgem para cobrir o corpo de Geisy. Policiais fazem cordão de isolamento para prevenir possíveis agressões contra a estudante. Agora, é impossível conter a multidão.

Se alguém tivesse gritado “mata!”, Geisy poderia estar morta. Coisas da modernidade e do inconsciente coletivo.

A direção da Ubam, apressadamente, resolveu punir a acadêmica. Punir Geisy, vítima de humilhação e linchamento moral. Voltou atrás. O fato ganhou manchetes de jornais pelo mundo afora. O assunto está na mesa de todos os brasileiros. Geisy tornou-se celebridade e é entrevistada pelas grandes redes nacionais de televisão. Não demora, a acadêmica contrata assessor de imprensa.

Enquanto se discute “quem é culpado de quê”, Geisy torna-se mais uma pseudocelebridade. Revistas fazem proposta para a estudante posar nua (Dá-lhe PhotoShop!), emissoras de televisão estudam a possibilidade de convidá-la para reality shows (Precisam de alguém para mostrar inocuidades). Como previu o artista americano, Andy Warhol: “Um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama".

Depois que a poeira sentar, Geisy vestirá o polêmico e, agora, surrado vestido rosa, e, ao passar pelas ruas, receberá assovios e comentários de famintos e impertinentes peões de obra. Só.

Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 17/11/2009
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