Casamentos

— Que fale agora ou cale-se para sempre – dizia o sacerdote de antigamente.

E hoje? Quem fala isso? Desde que frequento casamentos eu nunca ouvi isso, apenas na teledramaturgia. De qualquer forma, não é mais essa frase que atormenta a vida das noivas, nem passa pela cabeça delas a presença de uma possível “outra” para impedir o casório. E quando não era a outra, a sogra podia muito bem fazer esse papelão. O que percebo por aí é que o pré-casamento é muito mais tenso do que o próprio casamento, ou o pré-casamento é feito sem problemas, sem crises, sem ameaças de fim do noivado, mas na hora da celebração tudo vai pelo ralo. E como pesadelos não ocorrem apenas enquanto dormimos, há as tragédias gregas em que dá errado do início ao fim.

E o que dizer de casamentos ecumênicos? É possível? Será que não é o cenário ideal para uma guerra religiosa? Muito perigoso, eu diria. Cristãos e protestantes vem se unindo, deixando a religião de lado e colocando o amor acima de tudo, como deve ser, mas na hora do casamento é que pode complicar. Um padre e um pastor dividindo o mesmo espaço. Combinam-se tudo para que se faça algo bonito e respeitando o lado de cada um, mas na hora H, um deles aparece dizendo que não celebra em conjunto com o outro. E a noiva no salão de beleza fica sabendo de tudo isso e se nega a aparecer na igreja, e o atraso tradicional se torna um grande atraso, causando um mal estar entre os convidados, tanto os que sabem da discórdia religiosa tanto os que não sabem.

E o que dizer dos convidados? Convida fulano, que chama cicrano que chama o cunhado da avó da vizinha. E lá está o penetra do penetra do penetra caracterizado com uma roupa digna de fazer compras num domingo à noite. Ai fica bêbado, mexe com um mexe com a outra. Essas histórias nunca acabam bem.

Amigo meu me contou que num casamento houve algo inédito. A noiva entrou na hora marcada. Mas e o noivo? Cadê o noivo? Momento depois aparece o noivo todo pomposo. Dizem que ele queria aparecer mais que a noiva. Outro casamento inusitado teve o celebrante, que não era padre nem pastor, que escondia um amor pela noiva não e conseguia os declarar marido e mulher, enquanto isso falou até não poder mais, até que alguém entre os convidados gritou:

— E eu os declaro marido e mulher! E vamos pra festa logo!

— Parem todos! O casamento não acabou e não vai acabar, porque eu não posso fazer isso, eu amo a noiva e se há alguém contra essa união, sou eu!

Sabendo que casamento dá uma baita dor de cabeça, um casal de noivo resolveu se casar numa segunda-feira chuvosa, tendo como testemunhas algumas pessoas que estavam num ponto de ônibus perto do cartório. Mas mesmo assim deu briga com as mulheres após a noiva jogar uma flor roubada do jardim do cartório e cada mulher ficou um pedaço, enquanto que o noivo e os homens foram para um boteco beber cerveja e jogar baralho.

06/12/09

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 06/12/2009
Código do texto: T1963341
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