MEU NATAL   (EC)
 
 
                        Desde que me entendo por gente, meus Natais foram sempre repletos de alegria e festa.
 
                        Tínhamos por hábito passarmos essa noite na casa de meus padrinhos e a expectativa era grande, não propriamente pela ida, mas, sim, pela volta, pois eu sabia que iria encontrar montes de presentes esperando por mim. Não que fossem presentes caros, a situação financeira não era das melhores, mas com boa vontade e dando asas à imaginação é possível criar maravilhas.
 
                        Nossa chegada era sempre repleta de abraços e beijos de amigos e parentes que se demoravam em conversas intermináveis sobre a família, filhos e outros assuntos que não interessavam de maneira alguma a nós crianças que só queríamos saber de brincar.
 
                        Mas em meio a toda essa alegria e festejos, havia um momento em que eu me sentia tremendamente infeliz. Era, justamente, na hora da ceia porque, apesar de toda a fartura que se derramava sobre a mesa, eu nada via para comer. Me parecia estar cometendo um pecado, (estudava em colégio de freiras), tantas crianças pelo mundo afora ansiando apenas por uma migalha do que me sobrava e eu, ali, desdenhando o que tinha à frente. Porém, era uma situação acima das minhas forças, se fosse insistir o desastre seria total. O jeito era me contentar com um pouquinho de arroz e algumas batatas pescadas da bacalhoada. Inda bem que a infelicidade durava pouco, depressa eu me esquecia desse momento e a noite de Natal voltava a ser linda e cheia de luz.
 
                        Por volta das duas horas da madrugada empreendíamos a viagem de volta, e ao abrir a porta de casa era um deslumbre total. Na sala, à minha espera, estavam todos os presentes com que eu sonhara durante o ano inteiro. Impossível duvidar da existência do bom velhinho se eu tinha, ali, a prova real e palpável bem ao alcance de minha mão. Por isso, durante muito tempo acreditei piamente que Papai Noel, não era apenas uma história inventada para enganar os tolos, pois a cada Natal eu recebia-lhe a visita acompanhada, às vezes, até, de um bilhetinho.
 
                        A explicação desse mistério só fui descobrir muito tempo depois. Antes de sairmos minha mãe deixava a chave com uma vizinha, e esta se encarregava de arrumar tudo nos conformes. Já imaginaram que idéia genial?
 
                        Bendito seja aquele que alimenta os sonhos em botão de uma criança.

 

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Um Infeliz Natal.
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