Ora favas!

Pode até ser poético um buraco no teto, pra lua invadir como no teto de zinco da melodia, mas não é muito gostoso, especialmente em dias de chuva, e por mais que eu goste de chuva, que adore tomar banho de chuva e perder meus olhares apreciando-as, torrenciais ou fininhas, não foi nada romântico dormir com aquela cachoeira escorrendo ao lado da minha cama.

Já havia aceitado deitar mais cedo por conta do temporal que fez eu desligar na marra a Capitú e o Bentinho, não me animei ligar de novo quando olhei pela janela e vi o toró que tava caindo, a noite estava escura, e o vento zunia, a rua ficou um breu, só dava pra ver o avermelhado assustador do céu. Não deu tempo de despedir de ninguém, dar o meu costumeiro Boa Noite, e isso me inquietava, mas voilà, passei a mão no meu livro botei a camisolinha confortável, depois de ler alguns trechos da minha bíblia, orei e me debrucei sobre o Código Da Vinci. Com a chuva batendo na janela, e aquela aragem fria percorrendo a pele estava agradável a leitura, não sei por quanto tempo eu li, até que o sono me chegasse, quando os olhos pendiam, botei o livro do lado, apaguei a luz e a mim.

Acordei com o pingar incessante no assoalho, olhei meio sonolenta e percebi que não era uma goteirinha, eram grossos pingos, levantei cambaleante e fui apanhar um balde e um pano, para quem tinha que madrugar pra ir ao médico essa interrupção no sono foi quase uma sentença de insônia. Passei o resto da noite vigiando a goteira, com cara de paisagem, era tudo que eu precisava pra não perder a hora...

Por mais que eu adore a chuva ela não precisava vir passar a noite do meu lado na cama, ora favas!

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 25/05/2005
Código do texto: T19704
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