FOGO SOBRE A TERRA

FOGO SOBRE A TERRA

Maria Teoro Ângelo

Desde que o homem descobriu o fogo e aprendeu a manipulá-lo, o mundo nunca mais foi o mesmo. Queimaram inocentes em fogueiras, atearam fogo às aldeias dos vencidos e Nero incendiou Roma e continuou tocando sua cítara enquanto observava o espetáculo. As bombas lançam fogo sobre os territórios inimigos,as profecias dizem o mundo acabará em fogo e os nossos pecados vão ser redimidos no fogo do inferno.

O fogo cria um impacto, uma visibilidade por si só porque é luz e clareia. O fogo chama a atenção porque tem vida e movimento.

Desde que inventaram o celular o mundo também não foi mais o mesmo. Ele passou a ser o nosso chip de localização. Facilita e atrapalha, tira o nosso sossego e dá tranqüilidade quando precisamos urgentemente encontrar quem nos interessa..

São Paulo voltou às manchetes, aos programas humorísticos como o inferno sobre a terra. Ridicularizado e menosprezado, culpado e diminuído na fotos impactantes que um ônibus em chamas oferece.

Mas fogo não é privilégio apenas do estado mais rico do país. O fogo está nas queimadas da Amazônia que podemos ver pelas fotos do satélite. As armas de fogo mantêm a guerra nos morros do Rio. Já puseram fogo num índio que dormia, a miséria vira cinzas com os incêndios nas favelas, o sol escaldante é fogo sobre as regiões secas do Nordeste, nas escolas os alunos põem fogo nos latões de lixo e, se faltar luz no período noturno, são capazes de incendiar as cortinas, os desmandos dos políticos são fogo sobre as leis e a democracia.. Os veículos incendiados em São Paulo são os sinais do que uma minoria ensandecida, achando-se no direito de também transgredir sem punição, pode fazer para atrair os holofotes sobre o poder do Mal.

Violência há em todos os cantos proporcionalmente ao número de habitantes.Dizem que o celular comanda os ataques de dentro dos presídios. Convém lembrar que há muitos meios de comunicação e que há muitos bandidos fora das cadeias.

São Paulo reúne um grande número de habitantes e veículos, mantém as maiores concentrações de imigrantes e migrantes, arca com o ônus de receber os rejeitados e oprimidos que vêm de todos os cantos em busca da terra prometida, da oportunidade de trabalho ou da sobrevivência que perderam a esperança de conseguir em seus lugares de origem. E tem muitos presídios.

Entre os emaranhados de ruas e vielas, com uma superpopulação, um formigueiro humano, é o lugar ideal para se criar um tumulto. Se tais ações vêm por ordem dos chefes encarcerados ou se acontecem por incitação de outras forças, uma coisa é certa: acontecem porque em qualquer lugar há marginais e loucos dispostos a atear fogo, matar inocentes por dois motivos. Um deles é pelo descrédito nas instituições que eles julgam culpadas pelas suas próprias mazelas ou de seus pares e outro é pelo prazer em destruir vidas e o patrimônio público ou privado como vingança pela desigualdade entre o ter e o não ter.

19/07/2006

Lillyangel
Enviado por Lillyangel em 19/07/2006
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