Crônicas de um estudante

É um fato. Quando nada pode dá errado sempre acontece alguma coisa que atrapalha tudo. O que vou contar agora é totalmente verídico. Moro em fortaleza e semana passada fiz algumas pequenas viagens para tentar mestrado na UnB e na UFV. Uma loucura, é verdade, mas apesar dos imprevistas que vou contar para vocês deu tudo certo.

Tudo aconteceu em 3 dias, mas o clímax mesmo foi somente em 2 dias.

Dia 30.12.09, fiz as minhas provas lá no IB (Instituto de Biologia da UnB), durante a manhã e durante a tarde, e a noite arrumei as minhas coisas para poder viajar no dia seguinte. Estava tudo programado o vôo de Brasília para Belo Horizonte sairia 12:55 do aeroporto internacional Jucelino Kubitschek em Brasília e chegaria em torno de 14:10 no aeroporto internacional de Confins em BH. 14:45 pegaria um ônibus para a rodoviária de BH, e pegaria um ônibus de lá para Viçosa-MG as 18:00h para chegar nesta cidade as 22:30 h. Descansaria para a prova no dia seguinte, chegaria cedo e se desse certo pegaria o ônibus de 12:00 de volta para BH, se não pegaria somente o ônibus das 15:00 h e no mais tardar chegaria na capital mineira as 19:30, pegaria o ônibus para o aeroporto as 19:45 e chegaria as 20:45 no aeroporto de confins para fazer o check in no aeroporto e pegar meu avião das 21:30 de volta a Brasília.

É um pouco complicado para quem lê esse intinerário, mas o certo é nada aconteceu como foi planejado, vocês já vão saber o porquê.

Saí de onde estava hospedado em Brasília as 9:15 h da terça-feira (01.12.09), peguei um ônibus para a rodoviária e de lá, por volta das 9:50 h, peguei um ônibus para o aeroporto. Tinha dois ônibus para o aeroporto, me informaram depois, e lógico que quando estamos em outra cidade sempre pegamos o ônibus errado (o que faz o trajeto mais demorado) foi o que aconteceu comigo, cheguei no aeroporto lá pra 11:20. Não tinha bagagem para despachar, fiz o check in com uma atendente super simpática, acho que era Inês o nome dela. De lá fui para uma lan house mandar uns e-mails (R$ 4,00 por 15 minutos é por isso que dizem que Brasília é tudo caro), dizer para a família que estava tudo bem, essas coisas.

11:50 fui almoçar as pressas e ainda tinha que ligar para a pós-graduação para saber se o resultado tinha saído. Acabei tudo 12:20, mas eles não divulgavam o resultado por telefone, então enquanto me encaminhava para a sala de embarque mandei um mensagem de texto para um amigo meu que mora em Brasília para ele pegar o resultado para mim. 12:30 quando estava indo para a sala de embarque, passei no balcão da empresa aérea para pedir uma etiqueta de bagagem, que a Inês não tinha me dado e descobri que o meu vôo sequer tinha saído de Belo Horizonte por causa das chuvas na capital mineira e que por isso eu teria que ir no vôo das 14:10. Sem problemas, estava tranqüilo, mesmo com o atraso poderia pegar o ônibus para Viçosa as 18:00 h.

Nesse tempo de espera, fui pra livraria, deitei nos bancos do aeroporto e até tirei um “cochilo”, se é que pode chamar aquilo de cochilo. 13:40 estava entrando na sala de embarque para o meu vôo. Já transcorrido por volta de 50 minutos, já estávamos nos aproximando de confins, mas nós olhávamos para baixo e só víamos as nuvens cinzas de chuva.

O piloto então falou: “Boa tarde senhores tripulantes, estamos nos preparando para pousar no aeroporto internacional de Tancredo Neves em Confins, por favor afivelem seus cintos... a temperatura local é de 21 °C... tenham uma boa estadia na capital.” Passamos por uma área de turbulência e já estávamos vendo a cidade e a pista de pouso logo abaixo quando o avião teve que fazer um subida brusca.

1º pensamento: “vou morrer!” por que a gente sempre achar que vai morrer nessas horas?

O avião se estabilizou lá em cima e o piloto falou novamente: “devido as condições climáticas da região, não estávamos vendo a pista e portanto tivemos que fazer este arremete, estaremos sobrevoando a área por 30 minutos, caso as condições não melhores procuraremos uma outra solução.

Ele ficou sobrevoando por 40 intermináveis minutos. Mas nem tudo foi perdido, vi um arco-íris lá de cima como nunca tinha visto. Passado este tempo o piloto novamente falou: “As condições da área ainda não melhoraram e devido a falta de combustível procuraremos um outro aeroporto para pousar.”

2º pensamento: “vou morrer!”

Depois de 30 minutos de vôo atrás de outro aeroporto tava pensando quais aeroportos próximos de Belo Horizonte, voltar para Brasília já não era uma má opção, São Paulo era bem mais longe. Eu já tava para pedir um pára-quedas e dizer que ia descer em Viçosa quando o piloto falou: “atenção senhores tripulantes, apertem seu cintos, estamos no preparando para pousar no aeroporto internacional do Galeão na cidade do Rio de Janeiro, a temperatura local é 26 °C, sobre mais informações sobre o vôo favor consultar nossa equipe em terra”. Quinze minutos depois estava pisando em solo carioca. De quebra na descida ainda vi a lagoa Rodrigo de Freitas.

Durante o trajeto para a sala de desembarque liguei meu celular e tinha a seguinte mensagem do meu colega: “Você foi APROVADO, entrevista quinta 14:30.” Pense a felicidade, passei na primeira fase do mestrado da UnB, o único problema é que eu estava no Rio de Janeiro, mas tudo bem, era um problema mínimo.

Liguei para minha mãe, ela estava em um velório.

“Mãe, tenho duas notícias pára dar qual a senhora quer primeiro?”

“Diz logo qual quer uma... diz a boa logo.” – por que as mães sempre se contradizem?

“A boa é que eu passei na UnB.”

“Ah que maravilha, que felicidade...” falou minha mãe.

“A ruim é que eu estou no Rio de Janeiro.” - falei antes dela encompridar (como diz um bom cearense) a conversa.

“O QUE É QUE TU TÁ FAZENDO ÁI?” – Gritou minha mãe do outro lado da linha.

Expliquei a situação pra ela, e pedi para ela ir para casa e acessar a internet para saber qual era o próximo ônibus da rodoviária do Rio para Viçosa. Nesse meio tempo todos os passageiros receberam um cartãozinho da empresa aérea e pediram para que esperássemos no salão de embarque em frente ao portão 5 para outras informações. Era 17:00 h. Já tinha perdido o ônibus das 18:00 h de BH para Viçosa.

Ligo para minha mãe ela ainda tava deixando umas primas dela e minha avó em casa antes de ir par casa. Tudo bem, não estava com pressa só o que tinha feito até agora era esperar. Sentado na sala de espera comecei a conversar com a Luíza, uma bióloga de Montes Claros, que trabalha com permacultura. Não sabe o que é isso? Você não é o único. Mas foi o suficiente para a gente começar uma conversa bem agradável, depois começo a conversar com uma médica mineira gente boa também.

17:50 h minha mãe me liga dando os horários do ônibus, quase na mesma hora que o pessoal da empresa aérea chega dizendo que íamos no avião de 18:30 e pedindo que aguardássemos para emissão de um novo bilhete.

Acabei desistindo de ir de ônibus do RJ para Viçosa, mas estava torcendo muito para que dessa vez o avião pousasse em BH. As meninas que estava conversando ficaram distantes da onde eu sentei, acabei conhecendo a Flávia outra mineira muito simpática. Conversamos bastante, quase todo o tempo de vôo do Rio para Belo Horizonte. Chegamos 19:20.

No caminho conheci um cara de Goiânia que ia pegar um ônibus na Rodoviária também, mas era para Ubá se não me engano, mas por casa da demora do avião ele acabou pernoitando no aeroporto e eu segui viagem no ônibus de 19:45 h para a Rodoviária. Já na Rodoviária eu comprei as passagens de ida e volta de Viçosa e fiquei de 20:45 à 24:00 h esperando o ônibus. Jantei, dei duas voltas na rodoviária, fiz sudoku, comprei um chaveiro, dormi... e por fim peguei o ônibus.

Cheguei em Viçosa às 4:30 da madrudaga da quarta-feira. Peguei um táxi para o hotel, lá chegando fui tomar banho e arrumar as coisas para a entrevista. Resultado, fui dormir 5:30 da madrugada. Por causa disso só acordei 7:35, para a minha prova as 8:00 h. Lógico que cheguei atrasado. Mas tudo bem... era por ordem de chegada, fui entrevistado só 11:00 h. É, mas por causa disso perdi o ônibus de meio-dia para voltar para BH mas tudo bem durante a espera conheci a Sarah uma mineira de Montes Claros muito simpática.

Lá para 12:30 voltei pro hotel, arrumei minhas coisas e tomei banho antes de sair atrás de um lugar pra almoçar. Pertinho dalí tinha um bom lugar, de lá fui a rodoviária a pé, em Viçosa tudo é perto. Como era 14:00 e meu ônibus só saia as 15:00 decidi conhecer um pouco mais a cidade entrei no shopping em frente a rodoviária e de lá peguei uma rua que tinha um quarteirão interminável.

3º pensamento: “estou perdido e não vou conseguir chegar a tempo de pegar o ônibus”. E olha que foi por pouco quando cheguei a rodoviária de novo era 14:55.

Peguei o ônibus quase que na hora 15:10 h fui dormindo umas duas horas. Quando acordei, finalmente, descobri algumas coisas bem curiosas sobre Minas Gerais.

1º - o sentido da frase “te encontro nas curvas de minas”. Nossa que é curva, não existe lado da sombra no ônibus, em uma curva você vai para o lado do sol, na outra você está do lado da sombra.

2º - todos os caminhos levam a Ouro Preto. Tinha umas placas na estrada Belo Horizonte a esquerda, Ouro Preto a direita. O ônibus pegava o caminho da esquerda. Mais a frente Belo Horizonte a direita, Ouro Preto a esquerda. O ônibus pegava o caminho da direita. E ainda assim a gente passou do lado de Ouro Preto como isso é possível?

3º - Placas de estradas são enigmas. Tinha umas placas assim: velocidade máxima 60 Km/h, 1 metro depois velocidade máxima 40 Km/h, 1 metro depois desta segunda placa a seguinte frase “Cuidado, devagar, curva perigosa.” O aconteceria se a pessoa só visse a primeira placa?

4º - Detesto a estrada real. Ora, a monarquia já acabou há mais 150 anos e ainda existe estrada real. Por causa das reformas nessa estrada só funcionava um lado da pista e lógico isso contribuiu bastante para o meu atraso na chagada da capital mineira.

Falando na chegada a Belo Horizonte, quando nada mais poderia piorar, piorou. O céu estava limpo e claro, como deveria estar o céu. Faltando 15 minutos para chegar a rodoviária o céu decidiu mudar drasticamente de cor. Resultado, uma chuva despencou lá de cima e o trajeto até a rodoviária demorou 30 minutos. Cheguei à rodoviária de BH 7:57 h. Corri (literalmente) para o balcão da empresa de ônibus que faz o trajeto Rodoviária-Confins . Mas o ônibus que sairia em 2 minutos só chegaria a confins as 9:05 e ficaria muito em cima para eu fazer o check in e pegar o avião de 9:30.

Fui procurar um taxi.

“Moço você demora quanto tempo para confins?” – perguntei para o primeiro taxista que vi.

“Já estou esperando um cliente, peque o de trás.”

Fiz a mesma pergunta para o taxista de trás, ele disse que tiraria em 40 minutos no máximo. Eu entrei no taxi e disse:

“Pois vamos que meu vôo sai 20:50” menti para ele ir mais rápido.

“Não se preocupe...” disse o taxista “quando tem alguém atrasado eles [os outros taxistas] pedem para o Daniel aqui levar. Eu nunca chego atrasado, chegaremos lá no tempo.” Eram 20:05 h.

Ainda em BH ele me perguntou da onde eu era. Disse que era de Fortaleza. Ele disse que já ouviu falar muito bem da cidade, que era doido para conhecer e papo vai papo vem. Até ele chegar na “estrada verde”.

“Essa aqui [a estrada verde] foi o Aécio quem fez, já tinha o aeroporto de Confisn sabe, mas ninguém usava, era muito distante. Foi só ter umas quedas de aviões lá em São Paulo que ele mandou transferir os vôos da Pampulha para Confins e mandou construir essa estrada Boa.” Ele falava isso e o velocímetro ia de 100 Km/h para 120 Km/h dessa para 140 Km/h.

“Moço o senhor pode ir um pouco mais devagar” falei.

“Não, você não vai chegar atrasado.”

4º pensamento: “essa cara vai bater e eu vou morrer aqui.”

Cheguei ao aeroporto de Confins às 20:36 h. Tava um engarrafamento logo na entrada, o taxista falou que era mais rápido eu ir andando até o guichê do que ele me deixar em frente, e foi o que fiz, paguei e saí correndo para fazer o check in. Eram 20:45 h. tinha chegado na hora.

Após a espera para o avião, embarquei na horado. Cheguei em Brasília pouco depois das 22:00 h. Fui de taxi até onde tava hospedado, e o taxista de Brasília não era do Ceará e ainda me deu um “desconto” em troca de informações da terrinha.

Cheguei vivo em Brasília 23:00h do dia 02.12.09. Numa viagem que nada poderia dar errado.

Bruno Edson
Enviado por Bruno Edson em 20/12/2009
Reeditado em 12/08/2013
Código do texto: T1987790
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