Olhos Verdes

Verde é a cor da esperança e aos dezesseis anos a gente enxerga tudo através de lentes verdes, principalmente se esse verde for a cor dos olhos do namorado.

Os olhos são verdes; os cabelos negros; o ar...arrogante como só os jovens conseguem ter. O lugar...o portão da escola.

Mal o sinal ecoa na sala de aula atiro-me pelas rampas, deslizo pelos corredores, cabelos esvoaçando, bolsa por fechar, livros e cadernos mal equilibrados nos braços. Meu destino... o portão da escola.

Não é destino único. Todos se dirigem para lá conversando, rindo, buscando a liberdade; querendo respirar imediatamente o “ar lá de fora”, como se aquelas poucas horas passadas nas salas de aula pudessem realmente sufocar. Todos estão aflitos para sair, porém a minha necessidade é mais urgente. Ele está lá fora.

Aquela multidão se acotovelando, aquele burburinho intenso, a demora para chegar do pátio até o portão de saída, tudo isso vai me deixando tonta, agoniada. Feito um náufrago lutando contra as ondas para chegar na praia, eu me arremesso contra a multidão procurando a saída.

E então, como num passe de mágica, eu o vejo.

Ele está lá , do outro lado da rua. Tranqüilo, conversa com amigos. Não gosto deles. Como se sentisse meu olhar pedinte, ele se volta e me fita. Sorri, e seus olhos verdes me sorriem também. Nesse instante alguma coisa que não compreendo bem acontece. Parece que todos se calam. Há sons na rua tão sublimes que não consigo identificar. A multidão se acalma e é como se todos, de repente, parassem de andar e me dessem passagem ou... simplesmente desaparecessem.

Flutuo até onde ele está.

Mão na mão, olhos nos olhos, descemos a rua e nos misturamos à paisagem verde.