A mala

Não era só uma viagem como outra qualquer, era um acontecimento, um momento sonhado há anos que agora estava se realizando.

Ali estariam seguramente as pessoas mais importantes da minha vida nesse momento, e eu tinha que estar bem, tinha que me apresentar como aparentava ser.

Fiz a mala rapidinho, e coloquei nela roupas pra escolher, tanto íntimas como as de cima, não queria ficar limitada na hora de escolher, embora soubesse que seria pouco tempo que estaríamos juntos.

Lá fui eu pronta para o evento; deu tudo errado agora teria que carregar a mala pesada e incômoda o tempo todo. Fui voado com minha mala cheia de roupas e esperanças, além do que cabia, do que precisava.

Quando cheguei ao pavilhão, por sorte tinha onde guardar minha incomoda malinha, onde estava meu perfume minhas lingeries perfumadas, um pretinho básico, um jeans e outros coloridos que decidiria na hora de vestir como sempre; o que me olhasse e sorrisse.

Foi uma festa o primeiro encontro, olhares perguntadores, abraços apertados, sorrisos tantos e tão largos.

A sensação é de que estava entre pessoas que já faziam parte da minha família, a que eu escolhi para mim.

É claro que como cheguei direto e esbaforida não houve tempo de me refrescar com um banho, e fui pronta. Não me causou embaraços, mas uma esticada na noite com um jantar merecia um banho refrescante uma roupa cheirosa.

De posse da minha preciosa mala, fui para o hotel gentilmente oferecido pelo amigo, pois estava longe uma vida do lugar onde me hospedaria, e realmente sem a menor possibilidade de ir e vir em tempo hábil.

Enquanto o amigo desceu para o saguão ficamos eu a filha de donas absolutas do quarto dele para que nos preparassemos.

A primeira providência ao entrar foi descalsar a sandália e arrancar a roupa; como era bom sentir o fresquinho do ar pelo corpo suado e ainda defronte aquela noite iluminada piscando na janela.

Abri a mala e começei a revirar, não achava nada que fosse do meu agrado, bom como sou prática e desorganizada a beça, despenquei toda a roupa sobre a cama deixei tudo a mostra para que eu pudesse olhar cada peça e escolher o que estaria me convidando a vestir.

Normalmente não sou indecisa com roupa, não fico trocando, mas não achava nada que combinasse com aquela calça preta que assim que bati o olho me disse: me vista!

Pedi então uma blusa pra filha que a essa altura já estava debaixo do chuveiro, e ela muito organizada me ofereceu uma pra por por baixo e uma por cima, ah não tive dúvida, a essa altura que opção teria?

Resolvida a questão da roupa de cima, o que vestir por baixo? Bom parece simples, mas não é, será que na pressa teria pego calçinha e sutiã certos para essa opção de roupa?

Putz, aquela roupa toda espalhada na cama, se meu amigo que é tão organizado visse aquilo...seria uma semana de brincadeiras com certeza.

Não escolhi, voeei para o chuveiro enquanto a madame organização que é minha filha se arrumava com suas roupas cuidosamente colocadas sobre a frasqueira, pegando uma e guardando a outra sentada no carpete forrado por ela ao passo que eu havia tomado conta da cama, sem protestos da parte dela, ainda bem.

Debaixo do chuveiro uma porção de pensamentos me varrendo as idéias, e enquanto aquela ducha maravilhosa me lavava até alma, até arriscar um canto desafinado eu arrisquei.

De volta ao meu drama da lingerie, a filha já estava prontinha se maquiando, não queria me atrasar, peguei o que pareceu mais próximo e acomodei toda minha roupa de volta na mala..

Vesti a roupa com cuidado e pra variar acabei errando na lingerie, sabia que tinha uma pretinha na mala, mas na pressa e depois de tanto procurar optei pela branca, mas isso eu só fui notar no espelho do toilette do restaurante, grrrrrrr, também não ia me trocar ali, não é? Apesar da maravilhosa malinha estar me acompanhando pra todo o lado.

Quase tive um acesso, como? Se eu escolhi tanto, espalhei toda a roupa e ainda errei na lingerie?

A noite correu maravilhosa entre um abraço e outro, ninguém havia notado aquela destoante lingerie branca, sob a roupa preta, felizmente.

Agora já a caminho do apartamento de quem me hospedaria, e a mala do meu lado, toda revirada, eu seguia feliz com um sorriso estampado no rosto. Ainda despencaria a mala mais uma vez, para apanhar roupa

para o banho antes de dormir...e dessa vez ficaria tudo espalhado até o dia seguinte, o cansaço era grande...

Foi tão rápido tudo, que ainda parece que foi um sonho, em casa, corri para o meu micro morta de saudades daquela interatividade que já me acostumei tanto.

A mala? Bom a mala passou o fim de semana todinho fechada esperando a coragem de arrumar tudo de volta no lugar, recolher o que tinha pra lavar.

Ficou mais uma vez a certeza de que onde uma mulher vai com uma mala ela perde algo, a filha já sabe onde deixou a calculadora científica ( e ela é que tão organizada, mas não me perguntem porque ela levou uma calculadora científica!!) eu ainda estou procurando pelos fundos da mala uma pecinha perdida...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 27/05/2005
Código do texto: T20134
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