Fotografia

Nada ouve, senão o silêncio que fazem todas as coisas que o observam, em um passado distante.

Não! Não há nada de espantoso em se sentir observado por umas crianças de uns sete ou oito anos, que trazem no rosto um sorriso reverente, coisa que faz o tempo correr de uma só vez para dentro de si mesmo.

Em grupos formados por turmas diferentes, ali estão. Estão como sempre, em cena esperada a cada final de ano. Nada varia: uma professora cercada de crianças. Simples maneira de perpetuar em fotografias os momentos da vida.

Do interior da foto, sob silêncio do passado, como em pesadelo, as realidades são difusas. Fixa o olhar com um constante piscar, como se esperasse o falar das figuras ali retratadas.

Assim, como se não houvesse passado, espera ouvir algo das figuras do retrato. Ah! Se o tempo, senhor de tudo, não fosse soberano... Mas o que impera é o silêncio daquilo que não mais existe. Constatação do aprisionamento real do momento que já se foi.

Hoje o que consegue distinguir são personagens mergulhadas na poeira do esquecimento. Esquisito agora, olhar para a estática imagem e tentar recompor o remoto tempo. Faz-se necessário um grande esforço para resgatar alguém desse palco de crianças, onde mesmo a sua imagem se dilui até se tornar estranha e desconhecida. Difícil lhe é constatar que um dia já foi uma daquelas criaturas retratadas. É como um salto no escuro em que se esbarra no tempo que se foi.

Choca-se com os limites, reconhece. Tenta atravessar fronteiras na insana tentativa de conquistar um território abstrato do qual hoje não tem qualquer poder. Não logra êxito.

A vida invariavelmente o leva aos amigos de infância. Tenta decifrar o destino de cada personagem daquele palco diante de seus olhos. Como vivem? Para qual curso do destino foram designados? Para nada há resposta.

Seu rosto parece transformar-se como estivesse enxergando coisas além daquela fotografia. Mas a razão mostra que só lhe resta ficar olhando para dentro de si mesmo e enxergar o que já não mais existe. Figuras que neste breve momento em sua mente vivem, embora agora já não sejam reais, pois pertencem a um mundo não mais existente. É o constatar que o apartamento que ora ocupa, cospe o eco de sua voz com aquele desprezo dos espaços vazios...

Fotografia, coisa fantástica. Aprisiona o tempo num pedaço de papel e faz com que certos momentos e pessoas se tornem eternos.

Laerte Creder Lopes
Enviado por Laerte Creder Lopes em 19/01/2010
Reeditado em 19/01/2010
Código do texto: T2037911
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