Coisas do dia a dia

Outro dia, caminhando pela avenida nove de julho, sou abordada por um desconhecido, que me perguntava como poderia se nortear na cidade, pois estava procurando a rodoviária.

Percebi que era de fora, e perguntei de onde vinha.

- Interior de Minas, vim de carona, dona!

Solidária ao seu desconforto, prontamente me ofereci para acompanhá-lo até a rodoviária e auxiliá-lo a retomar seu rumo.

Qual não é minha surpresa ao ouvi-lo dizer que não tinha rumo algum e me olhando de lado, com aquele olhar de quem espera o inusitado.disse-me:

-Acaso esta me expulsando da cidade? Esta dizendo que não sou bem vindo aqui?

Um tanto aturdida, mas plenamente ciente de sua falta de coerência, respondi que de forma alguma faria isso, que ele seria bem vindo em nossa cidade, apenas pensei que desejasse ir para outro lugar, uma vez que me pediu para indicar o caminho da rodoviária.

Antes que pudesse terminar meu discurso, o indivíduo, já um tanto alterado, começa a gritar na rua em altos brados que não tinha o direito de expulsá-lo da cidade, que não era a dona da mesma e algumas “cositas” mais.

Pasma fiquei completamente aturdida, e sem ação...apenas registrando que se aglomerava um bom tanto de passantes, compondo uma audiência que poderia até mesmo atrair alguém da televisão, tão afeita a este tipo de situação.

A confusão já era enorme, quando me dei conta de que a policia estacionava ao lado.Céus!

E, nada do camarada se acalmar.não havia forma de detê-lo, sem que parecesse mais culpada do que a assistência parecia já me considerar.

Instalou-se verdadeira balbúrdia, uma vez que na presença dos dois policiais, não só o elemento em questão bradava sua revolta, ao suposto exílio ao qual era induzido, como a platéia, que agora era composta de um grupo heterogêneo e dividida, pois já haviam se organizado, um lado apoiando-me e outro defendendo os direitos humanos e condenando o senso de privatização municipal!

Em meio a esta cena grotesca, me via tentando explicar algo a alguém, sem que ninguém se quer notasse minha presença, tal era a veemência dos discursos que proferiam.

O tal elemento, os dois policiais, e ambos os grupos da comunidade, que não parava de crescer, e obviamente, promovia cada vez mais opiniões divergentes.formavam um verdadeiro espetáculo da cultura popular itinerante.destes que se vê em filmes da década de sessenta.

De repente, ouve-se um barulho de lataria e vidro quebrado, e por uns instantes aconteceu o impensável.silêncio!...

Um carro na contra mão entrou em um caminhão que andava acima da velocidade permitida.

Segundos depois a confusão retornou redobrada, para meu desespero e consternação.

Quando parecia que nunca mais haveria coisa alguma fazendo sentido, o protagonista deste episódio, dá um berro atordoante, e grita, sem cerimônia alguma ao chofer do caminhão:

- Terá que pagar os estragos e a multa, pois a responsabilidade é sua.seu irresponsável!

Neste momento, o silêncio predominou em toda a avenida.olhos estatelados, bocas abertas, sem que emitissem som algum, falta de ação total.Em segundos, o caos recomeçou redobrado!

Os policiais, finalmente resolveram me perguntar o que havia acontecido.e, ainda que relutante, relatei o pequenino e inocente diálogo inicial deste episódio funesto.

Ao indagarem ao elemento, bem, onde estava o elemento? Eis que enquanto todos opinavam a respeito do ocorrido, e os policiais me questionavam.e o resgate chegava, acudindo a batida do caminhão e do carro.o elemento havia desaparecido.

Ninguém mais se entendia. até que se ouviu uma vozinha doce e delicada de uma garota que cutucava o braço de um dos policiais.

- Estão procurando o moço que estava perdido? Eu ensinei a ele o caminho da rodoviária, pois ele disse que era só isso que queria, e que nunca viu uma cidade tão atrapalhada!

Priscila de Loureiro Coelho

Consultora de Desenvolvimento de Pessoas

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 28/05/2005
Código do texto: T20411