Decididamente

Decididamente

Angélica T. Almstadter

Decididamente é preciso um motivo mais que considerável pra encarar 2 horas e meia de caminhada, muito embora o prazer de caminhar ao redor da Lagoa seja algo inexplicável. É lá que estão as pessoas mais transadas, é lá que se encontram os estilos que estão na moda, é lá a vitrine da saúde, não obstante seja também a grande sacada pra quem está se recuperando ou reencontrando a vida.

Mas encarar a ida até lá e a volta como complemento é para se pensar, e aí basta aquela olhadinha mais atenta no espelho e ainda o detalhe sacana daquela roupinha que já não cai tão bem, isso só, seria mais do que suficiente. Até poderia adiar mais um pouco, afinal a leitura anda deliciosa e domingo não é exatamente o dia que mais gosto, especialmente por concentrar coisas da semana toda e o tempo sempre está a me fugir por entre os dedos, entretanto a paz de não ter vozerio na minha direção me pedindo atenção e a liberdade de poder botar a prosa em dia é argumento irrefutável.

Entre as coisas que mais aprecio estão o silêncio de que não abro mão e uma boa conversa, não essa conversa de comadre que troca beijinhos e pergunta da família inteira, nem daquela conversa fútil que não acrescenta nada, eu só abro mão do silêncio por uma conversa estimulante que clareia idéias, e dá uma revirada nos meus conceitos. E pra essas conversas nem sempre sobra espaço, seja por excesso de trabalho ou de gente ao redor.

Mas numa boa caminhada na manhã de domigo tem muito mais coisa do que se possa imaginar; o percurso por ser longo e não permitir descanso pra não desistimular, faz com que a inspiração vagueie pra muitas direções, e enche de ares novos os porões mofados, daí mesmo que chegue em casa com o corpo moído, a alma volta sã.

Munida de todos esses motivos coloquei meus pés a caminho da Lagoa, uma caminhada e tanto, mas com suas compensações. Um dia não menos incomum por lá; campeonato de skite, muito som e gente bonita a beça. É nessas pequenas fugas, quando saio pra caminhar, quando a preguiça não me convence a ficar lendo, é que me encontro com a natureza, e observo cada detalhe, desde as árvores, a vegetação que conheço de cor, como a água doce represada, e ainda que conheça cada palmo desse refúgio, sempre me encanto quando adentro esse santuário de belezas.

Assim se o corpo agradece a oportunidade de respirar ar mais limpo, enquanto se ajusta um pouco a musculatura, os olhos agradecem por pousar sobre as paisagens mais belas, mas o que ganha mesmo é a alma que fica leve, o espírito que se norteia em conversações consigo mesmo, sem contar nas trocas que só me permito quando sei que vale a pena.

Decididamente, não foi aquela passada de olho no espelho que me arrancou do conforto da leitura dominical na cama, penso que como Dom Casmurro, é lá que vou continuar o meu Código Da Vinci, só que agora, com um estímulo a mais.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 30/05/2005
Código do texto: T20906
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