Crônicas da Esquina ( Gramática de Bar )

GRAMÁTICA DE BAR

Amantes da língua, revisores e professores de português têm, nos bares, a oportunidade máxima de exercitarem-se Os não raros pastéis – trocadilhos à parte - em tabelas, avisos, homenagens e cardápios, podem matar a fome desses especialistas e, o que é melhor, sem precisar acrescentar-lhe um só centavo à conta. São erros de todos os tipos oferecidos em banquete. Propositais ou não ( há os que pensam assim ) eles se espraiam, espaçosos que são.

Na tabela, lê-se: “MUELA – 7,00”. E aí o absurdo é duplo quando nos inteiramos do preço da moela nos supermercados e açougues. No entanto, se a pedem por pilhéria ou fome, o velho Augustinho não se dá conta, e ela é servida sem remorsos léxicos.

Numa mesa, entre risos, um cliente grita: “Augustinho, faz um caipirinha com lima da Peça!”. Gargalhadas espocam. O cansado galego não esboça reação e limita-se a fazer o que lhe fora pedido. Mais tarde, na conta, talvez ponha dez por cento de vingança. Sua lógica é simples e toda a sua filosofia se resume a obedecer. Entre o bolso que se oferece e a mão que o deseja há sempre um acordo tácito: bebeu, pagou!

Tolos amantes da língua! No Costa, como em todos os bares de alcunha botequim, a lingüiça dispensará o trema, o misto não abdicará do xis e os acentos serão abolidos ou inventados. Pegue, caro leitor, uma conta fechada pelo Augustinho, esse ótimo companheiro. Nela, apenas os números são cristalinos ( as somas, nem sempre ). Tudo o mais pode ser igual a qualquer coisa ou a coisa nenhuma.

Mas não pense, refinado leitor, que todos os erros estampados nessa casa santa sejam obras apenas de seus donos. Temos lá uma placa comemorativa do PAGODE DO PINGÜIM ( sem trema ) ofertada pela Cervejaria ANTARCTICA. Além do trema aviltado, pode-se ler: “A ANTARCTICA AGRADECE A BAR DO COSTA ... Chega! Ora, constatando a indireta transitividade do verbo expressa na preposição, o substantivo que lhe segue implora pelo seu legítimo direito ao artigo definido masculino singular. Mas, direito tolhido, vida que segue. Os erros? Como na canção, afoguemos nos copos do bar, não é, Augustinho?

Em tempo: “ Bolinhos de bacalhau: esperimente essa delícia!” Esse é novo.

Aldo Guerra

Vila Isabel, RJ.

Aldo Guerra
Enviado por Aldo Guerra em 05/08/2006
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