Nunca mais sonhei aquele sonho então

Fui criada assim, chegou um determinado momento da minha vida, aqueles dos quais guardo as primeiras lembranças mais nitidas, em que só via meu pai a cada vinte ou trinta dias.

E assim era bom.

Quando ele estava presente, estava presente. Nós conversávamos bastante.

E tinha esse acontecimento, todo domingo, quando ele estava em casa, eu acordava cedo, para assistirmos tv juntos. Nós gostavamos dos pogramas e de fórmula 1.

Tínhamos essa ligação automobilistica.

Nos também sempre íamos juntos quando ele ia jogar na loteria. Era um divertimento. E às vezes eu podia escolher os números.

E durante todo o trajeto, todas as vezes, ele me ensina como dirigir. Sobre as marchas, sobre as placas, sobre o transito.

Então, quando ele não estava em casa, eu sonhava.

Eu sempre sonhava que estavamos no carro e que conversavamos.

Algumas vezes o sonho terminava em acidente e virava pesadelo. Sonho isso desde os meus quinze anos. Ou antes. Não sei ao certo.

Quando eu fiz dezessete, ele me ensinou a dirigir.

Quando eu tinha dezoito anos, meu pai faleceu num acidente de carro.

Nunca mais sonhei aquele sonho então.

Até ontem à noite.

Quando tive esse bizarro sonho, em que estávamos indo de carro para o Paraguai.

Ele vestia um camisa verde estranhamente florida, tinha um bigode engraçado e tinha a pele bronzeada.

Acho que no paraíso, ele deve estar tomando sol. Deve ser uma espécie de Hawai lá.

Conversarmos tanto e por mais que eu tente, não lembro sobre o que.

Esse sonho não terminou em pesadelo.

Só me deixou essa saudade estranha, de algo que de fato, não aconteceu.