A RUSGA

A RUSGA

FlavioMPinto

Porto Alegre, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010, tempo bom, céu limpo, 26 graus Celsius. Um ventinho fraco que amenizava o calor que se aproximava. Dia maravilhoso para um passeio.

E lá fui eu sair para a rotineira voltinha da manhã com o Seu Calú.

Tranquilo como sempre, uma saudação a cada passo na Rua da Praia, me animava para a chegada do fim-de-semana.

- Oh, D.Calú, como le vai?

Don Gregório, do alto de sua experiência como vendedor ambulante, e á frente dos seus negócios do Pierre Alexander, saudava os passeadores.

Rua vai rua vem, atravessa aqui, ali.

- Olhe os azuizinhos atazanando os motoristas, D.Calú!

Ritinha deixara seu carro estacionado na frente da farmácia sem o pisca alerta e já entrou para o caderninho dos fiscais de trânsito. Saiu correndo deixando triste seu gel redutor encima do balcão para reclamar da anotação. Não adiantou nem espernear.

D.Calú, do alto de suas orelhas e bigode olhava incrédulo o esbravejar da moça.

- Como faço para pagar essa multa? Esse mês fiquei sem comissão de vendas! Meu Deus!

Continuamos a passear.

Lá pelas tantas surge D. Rosaura com seu Tesouro. Um vira-lata misturado com Schnauser preto peludinho metido a ganhar no grito.

Estávamos no seu caminho.

Ele logo começou a se engraçar para o lado do Seu Calú, que só o observava de sua posição imponente. Tivemos a idéia de mudar de calçada, mas não. De longe , dorso bem postado, cabeça erguida, olhar firme no desafeto, retesado, mais parecendo estar numa exposição já se manifestava impávido ante a agressividade do outro, que o ameaçava. Desafeto é o modo de dizer, não. Seu Calú parecia não desejar briga. Pelo menos indicava, Mas parece que o outro sim.

- Te aquieta, Tesouro, falava uma D.Rosaura cada vez mais nervosa ante aquele comportamento e o puxava para perto de si.

E foram chegando perto.

D.Calú, na sua postura, não se manifestava. Apenas olhava, incrédulo, o comportamento agressivo, nervoso e esbravejante do outro, que mais parecia estar se preparando para uma luta de boxe escarniçada e violenta.

Eu não falava nada.

- Deixa o Seu Calú solucionar os problemas que surgem. Não foi ele que provocou. Com certeza foi sua postura erecta e firme que gerou problemas, pensava eu.

Tesouro não parava de latir e D.Rosaura esforçava-se para retesar a coleira e impedir o pior, pelo menos , acredito, pensava assim. E foram chegando mais perto.

D.Calú continuava quieto, impávido e tranqüilo na sua posição superior.

Até que Tesouro, rendido, certamente pela tranquilidade do outro, se acerca e pára de latir, confraternizando-se com D.Calú. Este, apenas não o deixou chegar na árvore onde , diariamente, deixa sua marca.

Felizes continuamos o passeio.

Os animais, muitas vezes, para não dizer sempre, nos dão inúmeras lições de civilidade.

Este foi um fato real acontecido comigo e meu cãozinho, um simpático Beagle tricolor, numa manhã com tom primaveril de fevereiro de 2010.