A Sociedade do Saco de Lixo

...Lembro-me, quando criança...Grande era minha felicidade. Divertia-me com o cansaço do dia de uma Dona do Lar, Minha Mãe Nina.

Na tentativa de nos colocar pra dormir, contando histórias, que hoje perpetuam o nosso consciente, sempre acabava Dormindo. Caiamos na risada, vendo-a...de olhos fechados, boca aberta e o conto na mão.

Nossa maior diversão....ficarmos em silêncio, atentos. Não a história, mas a nossa mãe Nina. Aos poucos sua voz ia emboloando nas palavras, os olhos fechando até chegar o silêncio. O Silêncio que não conseguiamos conter por muito tempo. Acordando-a com nossas risadas. Despertada, como se nada tivesse acontecido, de um cansaço do dia que assim iniciava:

"Acordando para nos acordar

Não comendo para a gente comer

Limpando, lavando e cozinhando para a gente viver...

Por fim...Dormindo para a gente dormir."

Entre toda esta inocente diversão infantil, estava o cansaço e sofrimento feliz...Que passava-nos despercebidos. E Assim eram as histórias contadas: Branca de neve e os sete anões, A Bela adormecida, João e o pé de feijão e a tão conhecida....Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mal, onde o perigo residia no desconhecido, no estranho. Criando-nos o medo do novo caminho, colocando o mal naquilo que, por ventura, nem conheciamos. Foram muitas as histórias que me formou no que hoje sou. Dentre Elas:

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O Homem do Saco!!

Reza a lenda, um homem do saco...

Dizem ser; perigoso, um risco a sociedade. Tão Inescrupuloso, que sua maldade é com a pureza dos anjos infantis. Criancinhas são colocadas em seu saco...

...E SABE LÁ DEUS O SEU DESTINO!!!

Pra mim não é mais lenda, é sim, autêntica realidade!

Vi o Homem do saco....

Muitos devem achar ser fantasia minha, poucos acreditarão em minhas palavras e os demais nem me darão

atenção...

Mas eu vi o Homem do saco!

Não consegui identificar o seu rosto, escondia bem. Pude ver apenas, uma barba mal cuidada e um Sorriso.

Um Sorriso que não me fazia compreender, o sentido e de onde vinha.

Sim, era o Homem do saco!

Na madrugada fria e negra, sem estrelas. Num submundo funebre, onde os "Ratos" saem pra Vida, à grande festa regada por bebidas, que correm no lado esquecido da cidade, bebidas apodrecidas.

O saco de plástico, que ele usava era de preto....e de Lixo! Como poderia um Ser que se julga humano, capaz de tanta crueldade.

...Deixar uma criança num saco....

Me perguntei por horas, e nada racional conseguiu me responder...Apenas a Dor, que riscava o lado interno de meu estômago. Como um vidro, riscando o estridente azulejo.

No Seu saco de lixo, dentro tinha alguém...

Eu estava só...Fiquei nervoso, ansioso, com medo. Mas também curioso!!

Como poderia tanta maldade. Que infinita frieza é esta, tal qual da noite que me abraçava.

Como reza, e não é lenda...

Eu vi sim o Homem do saco.

Dentro tinha uma criança, e não era pequena. Tinha a pureza que era infantil. Era uma criança já crescida.

Deixaram aquele homem no Saco, sem ao menos percebê-lo....ADORMECEU!!

...E SABE LÁ DEUS O SEU DESTINO!!!

Fiquei a observá-lo, naquela situação cruel...

Um Homem adormecido, embalado num saco de lixo.

Restando aos meus olhos apenas...Uma barba mal feita e um SORRISO para o mundo...Que ninguém vê!!!

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A SOCIEDADE DO SACO DE LIXO

O Luxo de quem despreza é lixo; O Lixo de quem recebe é luxo!!

Ramorim Coelho
Enviado por Ramorim Coelho em 08/08/2006
Reeditado em 08/08/2006
Código do texto: T211835