COMO A VIDA O VÊ?

“Alguns nascem póstumos.”, disse Nietzsche à muito tempo atrás. Quase concordo com isso. Porém, alguns ressuscitam tempos depois, acordam para a vida e depois, na morte propriamente dita, o fazem com decência. Morrer é algo meio que definitivo, não há como escapar. Alguns por aí conseguem sobreviver à própria morte, fazendo dela uma despedida triunfal, quase apoteótica – como se morrer fosse um mero detalhe, um feixe de luz. Já que é para morrer, que seja assim: com classe. Se for para morrer, que seja para se transformar em mártir. Então, viva como tal. Morrer em frente às câmeras, por uma causa ou morrer por um amor é glorioso, mesmo que dê na mesma! Entretanto, morrer de gripe, engasgado com uma coxinha de galinha ou atropelado por um caminhão de lixo é patético. Compromete a seriedade do funeral e a solenidade do velório. A vida que precede a morte deve ser honrosa e meritória. Qualquer sujeito deve, se pode, escolher o tipo de morte. Afinal, vai ocorrer um dia desses. Pra morrer assim, segundo estudiosos do assunto é preciso ter vocação. Elvis, que se tornou um mito de tão gloriosa que foi sua morte, ainda vive, segundo um bando de teimosos. Uma jovem senhora de 72 anos, jura que o viu num MacDonalds do Texas no ano passado. O segredo para ser lembrado depois de morrer, é não fazer em vida, do corpo, um próprio defunto. Se viver exige empenho e criatividade, morrer exige mais ainda. Uma pessoa especial não pode simplesmente morrer e ser sepultada. Tem que ter o Elton John tocando piano no seu funeral. Tem que arrastar multidões as ruas para um ultimo adeus, tal qual Airton Senna. Tem que comover um bando de gente, se possível um país inteiro. Se é pra morrer, que seja pra entrar nas páginas dos próximos livros de história. Tem que ser o tipo de sujeito que mata a saudade em vida, e quando a morte mata a vida, a missão está cumprida.

Pessoas que por mim ainda são queridas e amadas, mas que já morreram, não tinham medo da morte. A morte é que não podia com elas. Fizeram da sua vida, de modo geral é bem verdade, um espetáculo e da ocasião da morte, o instante mudo que precedia os aplausos.

Não há nada melhor do que fazer na vida, da vida e em vida uma gloriosa espera pela morte.

Saudades de você, RMJ.

Martins Filho
Enviado por Martins Filho em 02/06/2005
Código do texto: T21550