A torneira (Lembranças do quintal da minha avó!)

Sob o céu, a casa; ao fundo da casa, o caramanchão; sob o caramanchão, o tanque; na costa do tanque, a torneira.

“ Menino, não fique abrindo e fechando toda hora que você vai destrambelhar essa torneira!” Era a voz de minha avó admoestando-me quando estava brincando com água.

Ah, mas era tão bom abrir a torneira e deixar a água escorrer por entre os dedos. Era como se a mão estivesse tomando banho de cachoeira. Palma pra cima, palma pra baixo; e de vez em quando ia levando a mão adiante, até o cotovelo ficar sob o jato d’agua.

A água era captda de um córrego chamado Palmito. Ela era quente e serpenteava pela mangueira escondida dentro da terra, atravessava á galope o quintal e vinha recobrar o fôlego na torneira. Ssssssssssss! Quando o fecho da torneira era aberto ela chiava uns dez segundos antes de aparecer.

A torneira era de metal e, quando nova, tinha a cor que buscava imitar o ouro. Quando estava envelhecendo o amarelo ia ficando desbotado e acabava por descascar em alguns lugares.

Quando entrava nessa idade, a gente rodava a “borboletinha” para ela fechar, mas ela continuava pingando. Se a gente teimasse e quisesse estancar a lenta sangria d’agua, ela se aborrecia de vez e deixava-se ficar girando em voltas sem fim.

Danava-se tudo! Quando estava chateada assim, a gente tirava a mão de cima dela e ela voltava a vazar. Pra esse destempero da torneira somente um elástico bem forte ou uma tira de câmara de ar de bicicleta pra dar jeito.

A gente amarrava a torneira pra tirar o vazamento e ela ficava parecida com gente que tinha cachumba ; que botava um pano que passava pela fronte, dava a volta no queixo e terminava por ser amarrado num laço, em cima da cabeça.