Meu Pé Esquerdo

Há uma semana sofri um acidente. Estava caminhando pela calçada, quando uma senhora saiu de sua garagem. Resultado: aquela senhora não só passou em cima do meu pé esquerdo, como ficou por um bom tempo com o carro em cima dele. Eu pedia para ela retirar o automóvel, mas ela não entendia. Somente depois dos gritos de outras pessoas, a mulher caiu na real (apesar que ainda tenho minhas dúvidas sobre isto)

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Bem, felizmente não quebrei nenhum osso, porém machuquei músculos, nervos e tendões. Precisei engessar meu pé.

Quando cheguei em casa com o meu pé engessado, meus filhos adoraram. Tudo era novidade. Foi a maior festa! Em poucos minutos, estava cada um com uma caneta na mão para escrever no meu pé. Meu pé se sentiu com o ganhador do B. Brother, com o repentino sucesso.

Meu filho foi logo dizendo : papai vai ficar difícil para você tomar banho. Na verdade, estava falando da sua dificuldade em aceitar seu próprio banho. Com carinho , ele pegou um travesseiro para elevar meu pé esquerdo. Minha filha não querendo ficar para trás, trouxe um suco bem gelado. Fiquei cheio de dengo.

Apesar do carinho da família, confesso que precisei de alguns dias para me acostumar com a idéia de ter que ficar em casa. Batia uma saudade do meu corre- corre! Afinal, meu organismo estava acostumado com altas doses de adrenalina!

Após alguns dias de irritabilidade pela situação (este gesso me fez crer que vou ser um velho muito ranzinza. Resolvi relaxar, aproveitar melhor aqueles momentos. Logo descobri que tinha muitas coisas para fazer. Arrumei meus livros, li e reli alguns. Organizei meus textos no computador. Matei a saudade de algumas músicas que há muito tempo não ouvia. Cuidei das plantas da varanda. Assisti a excelentes filmes. Tirei gostosas sonecas na rede.

De tudo isso, uma coisa me deixou ainda mais feliz. O carinho dos amigos. Sim, recebi telefonas e e-mails. Senti que de certo modo , sou importante para um grande número de pessoas.

Hoje, passado o susto, vejo o proveito deste pequeno acidente. Porém confesso: Nunca mais eu passo em frente daquela garagem. Pode ser que o destino resolva bater duas vezes na mesma porta.

Enquanto me recupero desta fatalidade, estou pensando se aceito ou não, o convite que recebi de Hollywood para a parte II de " meu pé esquerdo"

Vitória , 2003

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 05/06/2005
Reeditado em 04/06/2008
Código do texto: T22291