COM UMA PEQUENA AJUDA DE UM AMIGO

ENERGIA AZUL

Nelson Marzullo Tangerini

Em 2003, Adalberto Barboza e eu entramos para a História da Música: nosso amigo Maurício Silveira, cantor, compositor e guitarrista da banda Suburblues, do Méier, resolveu gravar nossa modesta canção Energia Azul.

Já estava decidido a não escrever mais letras de música, uma vez que ninguém se interessava pelas coisas muito certinhas que Adalberto e eu escrevíamos: porque me preocupo demais com a poesia, em oferecer um texto bonito, lírico, saudável ao público.

Energia Azul já fazia parte do repertório do banda, que apresentava nossa suave melodia em seus shows pelo Rio de Janeiro.

A princípio, pensei que este cd não sairia, uma vez que o Suburblues era um entra e sai danado. Vários músicos entraram e saíram da banda; um deles, Mauro Lima, primeiro vocalista, amigo meu de “peladas” de rua em Piedade, onde moro.

Mas Maurício é um lutador, um branco de alma negra, um verdadeiro amante do blues do Mississipi, e o cd acabou saindo – com belas canções do gênero e belo acabamento.

Não entendi muito bem a escolha de Energia Azul, uma vez que tínhamos outras obras – mais elaboradas musical e poeticamente, como “Depois das dez” ou “Sua cama nunca mais” – esta última, na linha melódica de Cole Porter.

Energia Azul nasceu basicamente de um sonho azul: estava num local de energia azul, num hospital, onde as pessoas se recuperavam de doenças graves. O sol que brilhava era azul. E azul era a luz que iluminava aquelas almas. E meus amigos espíritas, quando descrevi para eles o sonho azul que tive, me disseram de chofre que estive visitando um hospital na “espiritualidade”.

Mas eu estava mesmo era envolvido com textos em prosa do poeta Cruz e Sousa, e Região Azul me tocou profundamente. Paulo Leminski, outro apaixonado pelo blues e pela poesia do “Dante negro”, escreveu que se o catarinense tivesse nascido na América, teria inventado o blues. O simbolismo é um estilo de época que prima pela musicalidade. E a musicalidade de Cruz e Sousa, para ele, é blues. E a letra saiu assim: “Neste mar, vou navegar, / me diluir no azul, / deixar o vento me levar / nas águas deste velho blues. / / Não há lugar mais alto astral / em que eu não deseje estar; / minha canção é um velho blues, / o blues das ondas do mar. / / Quando eu chegar nesse lugar de Energia Azul, / a minha vida irá mudar / - velho ditado blues”.

...

Maurício me ligou, certa noite, em 2003, avisando que havia gravado um cd e que nossa canção era a 7a.

- Vou deixar um exemplar aqui em casa para você. – Disse-me o cantor.

Não perdi tempo. Falei-lhe que ia a sua casa àquela hora da noite. Ele mora no Méier. Podia ir de ônibus, mas decidi ir de táxi. Queria chegar logo. A notícia me deixou eufórico. Quem não ficaria?

Havia abandonado o mundo da música e o amigo me traz de volta...

De táxi também voltei para casa. E a primeira pessoa a ouvir Energia Azul foi Dinah, minha mãe. Depois mostrei o cd a parentes e amigos.

Em janeiro de 2004, Maurício me faria outra surpresa: colocaria meu nome numa sala de gravações do Estúdio RM2, Dele e de Ricardo “Coração de Leão. A outra sala do estúdio, na Ilha do Governador, ganhou o nome de nosso amigo Arildo Blues Man.

Esta crônica é uma homenagem a Maurício Silveira, artista do Méier, que vive me chamando de “Poeta do Blues”.

Nelson Marzullo Tangerini, 55 anos, é escritor, jornalista, compositor, poeta, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, e da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.

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Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 30/04/2010
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