"Eu e Minha Mãe" =Crônica sobre amor de toda uma vida=

Sessenta e três anos de minha vida se passaram e uma coisa não mudou nestas mais de seis décadas: continuo querendo presentear minha mãe de uma forma maravilhosa, inesquecível, espetacular, inenarrável, e não consigo. Consigo, como sempre, dar-lhe um presente comum, material, com toda a intenção de agradar e sem qualquer característica extraordinária. Mas na verdade não me entristeço muito com isso. Sei que por toda minha vida dei a ela o que muitas mães gostariam imensamente de ganhar sempre, todos os dias, todos os anos de suas vidas, que é o amor verdadeiro de seus filhos. Ao amor que tenho por ela estão acrescentados o respeito que ela sempre fez por merecer, a admiração por suas grandes qualidades como ser humano, o carinho, a imensa e sincera vontade de vê-la sempre bem e feliz dentro de suas possibilidades de octogenária. De uma octogenária vaidosa, inteligente, antenada, leitora assídua, participante, gozadora, crítica (mas não acerba..), mas, acima de tudo, grande pacificadora da família, diga-se de passagem.

Ter a mãe viva, inteligente, atuante e inteligente, em minha idade, é mesmo um privilégio. Um privilégio que muita criança, infelizmente, não tem. É simplesmente maravilhoso ter alguém que ainda nos chame, já velhos, de “menino”, que se preocupe com nosso futuro, nossa saúde, nosso bem-estar, e que ainda queira nos proteger e defender dos males do mundo desconhecendo a própria fraqueza física e, em vários casos, até mesmo mental.

Que coisa boa ter alguém a quem abraçar e beijar simplesmente pelo prazer de abraçar, beijar, declarar amor sem qualquer outra intenção senão a de fazer apenas isso mesmo: demonstrar carinho.

Que benção divina é ter uma mãe generosa, desprendida, compreensiva, sempre preocupada com a boa convivência e harmonia entre todos seus filhos...Quantas vezes, pensando nela, e em seu possível sofrimento, não refreamos a língua e os instintos e deixamos passar coisas que significariam rompimentos definitivos, ou muito doloridos, entre irmãos ou outros parentes próximos...Mãe pode ser ponto de apoio, freio de mão ou “ABS”...

Enfim, ter mãe quando a gente se aproxima da idade de começar a andar de graça nos ônibus da cidade é desfrutar da graça de perceber que ainda existe um fio a nos ligar à infância. Um tênue, mas maravilhoso fio.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 09/05/2010
Código do texto: T2245677
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