MÃE DINÁ NO INSS

Nos meus vinte e cinco anos de aprendizado, na mais árdua e mais gratificante das profissões, eu já vi de tudo. Deste tudo, infelizmente, ficam sempre guardadas na memória aqueles momentos que mais nos chocaram e cujos registros parecem eternizar-se na alma do idealista.

São os momentos em que o advogado, mesmo não podendo e não querendo, se envolve emocionalmente com o caso que lhe chega às mãos. Infelizmente são problemas de crianças vilipendiadas em sua inocência, em grande parte pelos próprios pais, são mulheres sem recursos, sofridas, que se dedicaram durante décadas aos seus lares e a seus maridos, e se vêm de um momento para outro simplesmente abandonadas, entregues à própria sorte com seus filhos. Não raras vezes é o poder dos ”fortes”, em seu mais apurado requinte de arrogância, a esmagar os mais comezinhos princípios da justiça em desfavor do “fraco”, muitas vezes sob o beneplácito do poder judiciário, em suas poucas exceções, a consagrar o vil e hediondo princípio popular de que “ que a mão da justiça só pesa para pobre, preto e prostituta”.

Há! Quantos pobres e humildes existem por estes Brasis afora, cuja riqueza de princípios morais lhes garante “ O Reino dos Céus...” Quantos homens de pele negra, mas de alvos corações sedentos de justiça serão saciados... Quantas prostitutas, execradas pela sociedade , se submetem ao vilipêndio do próprio corpo para o sustento de seus filhos abandonados, seus pais doentes porque, na maioria das vezes, enganadas em sua inocência primária, sem oportunidade de trabalho digno, desafiam os “fariseus’ desta sociedade moderna a atirar-lhes “ a primeira pedra...”

Os políticos, em todas as esferas da federação são, não raras vezes, os Pilatos da historia. Lavam as mãos - quando não lavam dinheiro – omitindo-se na proposição de projetos de leis mais sociais, mais dignos, mas austeros, que não visem votos nas corridas eleitorais, mas tão somente busquem uma sociedade mais humana, mais coerente com o principio da liberdade da igualdade e da fraternidade.

É o que acontece, atualmente, em todas as agências da Previdência Social no Brasil. Fizeram uma “Lei” de concessão de benefícios das mais esdrúxulas e das mais estaparfúdias dentre todas as leis, decretos, e ordens de serviços que já foram criadas para salvar a Previdência da bancarrota que os aposentados, as pensionistas, os inválidos e os desamparados , ao longo dos anos, vêm lançando a Instituição, conforme asseveram seus “inventores”.

Lançaram há pouco tempo uma orientação Interna que simplesmente permite aos médicos peritos da Previdência Social prever com antecedência de semanas, meses e até anos, o dia, o mês e ano em que o segurado vai ficar curado do mal que o levou ter deferido o seu beneficio de auxílio-doença.

Tenho recebido inúmeras consultas de segurados com altas programadas para 30, 60 e 90 dias. Verdadeiro acinte ao bom senso e a inteligência de qualquer ser humano, mesmo os pobres, os negros e as prostitutas, aliás, sempre os melhores e mais pontuais clientes.

Mas a de hoje bateu todos os recordes. Uma segurada, portadora de doença grave e que pode ocasionar-lhe a morte em poucos dias e que se encontra há mais de 2 anos usufruindo o beneficio de auxílio-doença, recebeu uma comunicação de que seu beneficio vai até janeiro de 2008, data já fixada para sua alta automática, devidamente programada.

Depois de 30 dias ela pode até pedir uma reconsideração. Mas, neste meio tempo já há de ter perdido seu emprego.

Fez-me uma consulta.

Que atitude tomar? Como pode o Perito ter certeza de que ela estará curada em 2008 ?

A única resposta que pude dar-lhe foi a de que, das duas uma:

Ou o Ministério da Previdência e Assistência Social inventou uma máquina miraculosa, tão secreta como suas ordens de serviços, internas, que detecta, com precisão, o percurso de todas as doenças que afligem a humanidade, e, por uma questão de política sigilosa não a divulga para o mundo, ou então, sem qualquer dúvida contratou, como perita especial, a Mãe Diná, que em qualquer programa de televisão tudo sabe, tudo enxerga, tudo prevê.

A situação seria, deveras, uma baita gozação de nossa parte, se não refletisse a realidade que, diuturnamente, se vê nos balcões previdenciários e que terminam nos escritórios de advocacia especializada em Direito Previdenciário.

Nelson de Medeiros
Enviado por Nelson de Medeiros em 26/08/2006
Reeditado em 20/01/2013
Código do texto: T225750
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