Crônicas de Escolas 1 ( O que fizeram de você, Paulo Freire? )

Entendo que a Pedagogia tenha sua importância e, como toda forma de saber, um corpo teórico vasto e diversificado. Portanto, nada contra essa arte de conduzir meninos e meninas.

Não sou daqueles professores que, não tendo formação nessa área, olham os pedagogos com cara de quem comeu jiló. Mas, teorias à parte, o que se vê na maioria das escolas é mais que um pesadelo. Assusta-me a (de) formação intelectual e o (des) preparo no trato com professores e alunos. O que se pode observar, e talvez esteja aí a razão de muitos colegas não gostarem do amargo fruto, são discursos prolixos sobre a arte de educar e uma obsessiva compulsão por reuniões e dinâmicas de grupo estéreis porque desfocadas da realidade que encontramos dentro da sala de aula. Salvo engano, pedagogos sequer sabem se são alérgicos a giz e deliciam-se em seu dialeto tribal: o Pedagogês.

Lembro-me de uma ocasião – e rolam aí mais de vinte anos – em que fui obrigado a participar de uma reunião desse quilate. E digo obrigado porque (des) orientada pela palra pedagógica, a diretora da escola condicionara o pagamento do salário à presença de todo o seu corpo docente. Então, lá estava eu e meu bando de coleguinhas. Lá pelas tantas, cansados de brincar de “ atirei o pau no aluno”, fomos chamados a assistir a um cover engraçadíssimo da dupla “ Fernet e Vygotsky” que tiveram suas estratégias transladadas para a rua Mercúrio, na Pavuna.

Mas o pior estava por vir. Um convite com ares de comunicado, conduziu-nos a uma sala onde fora afixado na lousa um enorme painel de fotografias. Sentamo-nos, aguardando a próxima atração. Alguns minutos de espera e já começava a se formar um pequeno borburinho típico das salas antes do início das aulas. Foi então que aconteceu. Do alto de seu salto 15, a (Des) Orientadora Pedagógica entrou com seu séquito. De óculos no Painel, discorreu sobre a importância psicanalítica e, tentando fazer humor com o jargão “ Freud explica”, incitou-nos a participar. Adiantei-me a todos. Irritado e convertido de última hora à trama Junguiana, rasguei a máscara personal e, mais monstro que médico, soltei a Sombra e, apontando para o canto superior direito onde, devidamente paramentado, via-se a foto de um palhaço de circo mambembe:

- Eu sou aquele ali!!!!

Foi um salseiro. A salada de caras escandalizadas e gargalhadas dos amiguinhos encerrou a reunião. Vitorioso, saí de lá com três cheques: o do pagamento pelo mês trabalhado; o do Aviso Prévio que cumpriria em casa e, o último, dado pelo marido da Diretora que, tendo perdido o primeiro páreo no Jóckei da Gávea, tinha pressa, pois não pretendia perder os demais e precisava sair dali urgentemente.

Aldo Guerra

Rio Das Ostras, RJ

Aldo Guerra
Enviado por Aldo Guerra em 27/08/2006
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