Mulher, esse mistério

MULHER, ESSE MISTÉRIO

Dori Carvalho

Que bicho estranho e encantador é esse, a mulher? Nada mais belo e tão assustador. Sangra, literalmente, quase a vida toda e não morre, além de sangrar a alma e o coração por seus filhos, por seu amor.

Que é capaz de transitar da futilidade aos gestos grandiosos. Da ternura, da suavidade ao ódio mais profundo.

Bela, feia – feia para aquele que não teve sensibilidade em descobrir sua beleza, gorda, magra, loura, morena, inteligente – burra para o troglodita que não soube descobrir sua sabedoria.

Tem forças para esbravejar uma avalanche de ofensas e depois cobrir o amante com o mais doce carinho. Transformar o homem, quando está em seus braços, num gigante, fazê-lo se sentir um deus por alguns instantes e transcender, viajar para outras galáxias e depois deixá-lo feito um verme, pequeno, um grão de areia, um nada, um Zé ninguém, um zero à esquerda.

Pode ser delicada e estúpida, humilde e arrogante, criativa e tola, sonhadora e prática, carinhosa e agressiva. Pode parar o trânsito, destruir e construir um império, jogar o homem no inferno, na lama, num botequim imundo, enchendo a cara de saudade e solidão ou levá-lo ao paraíso, ao sentimento mais sublime.

Diz o ditado popular que a mulher só faz duas coisas na vida de um homem: falta ou raiva. E como faz falta. O pobre do homem, sem o amor da mulher, fica vagando por aí, perdido em lágrimas, desencanto, sem ânimo pra viver. Ela pode criar a vida em suas entranhas e fazer do homem um farrapo.

E o homem, talvez seja a única coisa que queira, quer ser amado, admirado por esta criatura angelical e demoníaca. Então, pelo seu amor é capaz de matar, morrer, roubar. Poderoso milionário ou poeta pobre, tudo o que quer, de verdade, é o coração e o corpo da mulher amada. Acordar de madrugada e não vê-la mais, ali, ao lado, é a maior dor.

Não existe, no mundo animal, nada tão bonito quanto a mulher, talvez uma égua galopando. Não, não existe nada mais belo do que a mulher em pleno prazer, explodindo de desejo em contorções alucinadas e o homem, por um instante raro, se sentindo o rei do planeta. Tão frágil e tão poderosa, tão menina e tão dona de si, tão meiga e tão grande.

Tudo está ali, na mulher. Um universo de encanto e dor, de maldade e generosidade. Tudo ao mesmo tempo, agora. Alma de brisa e terremoto nos quadris. Lábios de manga e língua fatal.

Aí daquele que tentar traduzir o espírito da mulher, feito um tolo como eu, cairá na superficialidade e jamais escreverá nada que chegue perto do que é este mundo cheio de mistérios.

Afinal, a mulher é para sentir, não para entender.

dori carvalho
Enviado por dori carvalho em 21/05/2010
Código do texto: T2270673
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