BOTA A CARA

BOTA A CARA

Apenas Olhando e Vendo o Que não pode Deixar de Ser Visto

Por Sylvio Neto

“ a violência, em especial contra as populações de baixa renda,

é uma atividade lucrativa em áreas de periferia.

Atende a empresários bem sucedidos, mas inescrupulosos,

atende a políticos vinculados a grupos de extermínio

e dá mercado de trabalho a policiais corruptos”.

Doutor em Sociologia pela USP o sociólogo José Cláudio Souza Alves

Tenório Cavalcanti, ex-deputado federal

que com sua metralhadora, apelidada de Lourdinha,

desafiava a corrupção e os poderosos

que dominavam o município fluminense

de Duque de Caxias.

Delineia-se de forma absolutamente exclusiva a forma como se apresentam e se comportam os políticos e autoridades de nossa conurbada e conturbada Baixada Fluminense. Não bastasse serem quase todos egressos de um modus vivendus particularmente produzido por ações assistencialistas e por comportamentos e idoneidade afins com a margem da ética, da moral e do senso injusto com o que diz respeito às normas jurídicas que regem seu comportamento econômico-financeiro e social – que está na maioria dos casos a margem da lei.Desfilam eles, em sua grande maioria, em belos carros de luxo filmados com o conhecido insulfilm G5.

Assim, homens e mulheres públicos excluem-se da paisagem que deveriam fazer e ser parte como agentes e autoridades investidos de um poder público, eximem-se de atender a necessidade do eleitorado em continuar a simpática ação dos beijos e abraços das campanhas eleitorais e, sobretudo de prestar contas de seus mandatos.

Por que um cidadão público esconde-se atrás de vidros negros artificiais? Por que o não a transparência?

A constatação em que se envolve este texto, é um mais do mesmo...

É comum e trivial, poderia ter como tema e música incidental a canção da extinta banda Baixada Super 8, “ De Dentro do Meu Carro Não Vejo Ninguém” .

Quem sabe queiram eles, os políticos, imitar os Pop Stars do Cidade Negra, afinal são eles também da Baixada Fluminense...Se os artistas podem esconder-se atrás dos vidros negros de seus lindos carros e matar a saudade das ruas e dos conhecidos que lhes deram alguma inspiração, podemos também nós políticos, ora bolas!!! Devem dizer eles no fresco do ar condicionado e no escondidinho de sues carros.

Quem sabe no calar opaco dos vidros, possam eles incógnitos analisar melhor o dia a dia, o ir e vir, o vento, o sol, a calmaria e o arder nos olhos das cidades que governam e ou legislam?

- É vai ver é isso...

Vale a pergunta: Zito, que é também egresso do time que compõe a tese do doutor em Sociologia pela USP, o sociólogo José Cláudio Souza Alves, pró-reitor de extensão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), “Dos Barões ao Extermínio” e que teve uma aceitação invejável em seus dois mandatos a frente do governo do Município de Duque de Caxias, esteve sempre nas ruas, esteve sempre de mangas arregaçadas e calças dobradas quando desgraças naturais ofendiam sua cidade com vendavais, lama, esgotos entupidos, galerias pluviais a regurgitar as águas das chuvas por conta das camas, sofás, travesseiros, colchões e garrafas PET que lhes impedia o livre trânsito até a Baia de Guanabara...Por que Zito desfilava a pé ou em carro aberto e não tinha necessidade de estar incógnito? – O pequeno exército que o acompanhava não me causa espanto.Pode-se ainda hoje, encontrá-lo no Restaurante Mussarela, de bermudas e chinelas, a degustar a deliciosa cachaça Seleta...Pode-se ainda hoje encontrá-lo na feira de tradições nordestinas de Duque de Caxias a deliciar-se de uma lautosa buchada de bode.

Seu homônimo, da Belford Roxo dos idos tempos do pleno desenvolvimento, Joca – O iniciador do processo de emancipação e prefeito transformado em mito (após a morte por assassinato), pela grandeza de suas realizações que até então não havia encontrado similar e que por elas, pode-se sem constrangimento esquecer de que massa bruta, essência e fôrma fora gerado, também era um homem das ruas, homem de botar a cara.

Os compositores e artistas ligados ao funk e provenientes das comunidades carentes, em suas letras, ousam usar a frase “ Bota a Cara” , a frase define uma ética daqueles que se acostumaram à vida humilde e violenta das favelas e sem vergonha mostram-se por inteiro nas letras de suas músicas e na forma como dançam.

Por que então esconder a cara, aquele que prometeu e se comprometeu através dela fazer de seus atos a transformação necessária para a conquista de bens sociais e humanos para seus eleitores e não eleitores?

Sylvio Neto
Enviado por Sylvio Neto em 29/08/2006
Código do texto: T227933