MEDO DE QUE? MEDO DE QUEM? PARTE 1

MEDO DO QUE? MEDO DE QUEM?

PARTE 1

Por Sylvio Neto

“ Todos os povos, independentemente da geografia ou da história, têm os seus costumes, hábitos, normas, leis, preceitos e regras de conduta. Tais valores são instituídos por razões das mais diversas tais como: econômicas, religiosas, políticas etc. Trata-se dos elementos que constituem a cultura desta ou daquele grupo ou comunidade”

Revista Ética & Filosofia Política (Volume 6, Número 2, Novembro/2003)

“ (...)Desta forma, enquanto Platão inspirou revolucionários e doutrinários da sociedade perfeita, Aristóteles foi o mentor dos grandes juristas e dos pensadores políticos mais inclinados à ciência e ao realismo” .

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"O homem, quando perfeito, é o melhor dos animais, mas é também o pior de todos quando afastado da lei e da justiça, pois a injustiça é mais perniciosa quando armada, e o homem nasce dotado de armas para serem bem usadas pela inteligência e pelo talento, mas podem sê-lo em sentido inteiramente oposto. Logo, quando destituído de qualidades morais, o homem é o mais impiedoso e selvagem dos animais, e o pior em relação ao sexo e à gula" Aristóteles - "Política", 1252 b.

Em 2000, perdi meu emprego no Colégio Santa Mônica, unidade Taquara, onde lecionava História e Geografia. Como eu já havia me desligado do CIM (Centro de Instrução Moderna), fiquei sem emprego e com a promessa de meu coordenador (o mesmo que me demitiu e me sorria, com tapinha nas costas, dizendo ter tentado tudo junto à direção para que eu permanecesse) de uma colocação na rede GPI da qual também era coordenador. As esperanças acabaram mesmo na necessidade da existência de um milagre, que não aconteceu...nunca.

Baseado no blues acima ficou devendo ao banco e a todos os cartões de crédito que tinha – e tinham quase todos os que são ofertados aos que tem salário acima de R$ 2.500, 00 (dois mil e quinhentos reais). Hoje, agosto de 2006, quase toda a dívida prescreveu, salvo a exceção do crediário no banco Itaú, que foi negociada por algo em torno de um décimo de seu valor. O que é fato é que dividas do porte da existente com o cartão Fininvest, por exemplo, que de R$ 900,00 em 2000, chegou à monta de R$ 32.000,00 em 2006, foram abonadas através de convites de pagamento recheados de descontos (a dívida do exemplo citado caiu para R$ 859,00 divididos em quatro parcelas iguais).

O mote contado acima pouco tem haver com o texto que precisa ainda surgir, mas como vou tocar na tal ética e na moral...Prefiro como diz a letra do funk botar a cara.

A discussão filosófica a cerca da Ética e da Moral, não sei onde começa...Conheço um pouco a partir dos pós-socráticos, A República de Platão (existe uma ética filosófica, política, estética e jurídica que repousa na natureza da justiça e da injustiça. A utópica sociedade do diálogo é ética) e a Política de Aristóteles - a ética é centrada na ação voluntária e moral do indivíduo - (caramba, onde anda o meu “Ética a Nicômaco” ?).

“Tratando da questão da origem da ética numa perspectiva ocidental, há um consenso de que Sócrates (* 470 + 399) teria sido o seu iniciador. Acontece que este filosofo nada escreveu, tudo o que sabemos de sua filosofia é, principalmente, segundo a leitura de Platão. Nos diálogos chamados “socráticos”, Platão buscava registrar a filosofia do seu mestre”. Revista Ética & Filosofia Política (Volume 6, Número 2, Novembro/2003)

Desde então parece-me que ela a Ética, e a sua sombra, a tal Moral, passam a ganhar um caráter particular e não a amplitude social que lhes cabe, a coisa caminhou com algumas modificações e adaptações no que se refere a época vivida. A máxima da Ética está mesmo em Machiavel, salvo repito, as modificações e adaptações necessárias a época em que vivemos – do Absolutismo até a Democracia Representativa (mais relativa do que representativa) muita coisa pôde ser melhorada (Código Civil, Trabalhista, Penal e as Constituições Federais), não sem a possibilidade da fraude e da brecha.

Há algum tempo atrás, na época em que lecionava no Santa Mônica, um grande amigo e também professor (literatura-língua portuguesa), dava sinais da insanidade que o acometeu posteriormente por algum tempo (transformando a sua e também a vida dos que estavam dele próximos), quando dizia: - eu quero virar uma besta...Não leio mais jornais, não vejo mais tv...Eu de hoje em diante serei uma mula.

A afirmação desse amigo vinha de uma ética ferida. Da dor, vinha a revolta que transbordava na lucidez incompreendida do homem lúcido e de um potencial intelectual invejável, em tornar-se uma besta. Seguramente queria outrar-se, numa rebelde atitude de ctrl-foda-se.

“Muita luz as vezes ofusca”

Já aqui emendo dois pontos que seguirei em costura com o tema que irá a seguir desenvolver-se.

Há tempos que evito ver os telejornais, a bastante tempo evito ler os jornais. O JB virou tablóide, confunde-se com o Extra, com o Expresso, com o Meia Hora, vale ainda pela coluna do Mauro Santayana e pelo Villas Boas Correa. A Folha não é entregue na Baixada...ler o que? Sobre as incursões do tráfico em favelas rivais? Sobre a rebelião no presídio da vez? Sobre o caos da violência em São Paulo? Tisc, tisc, tisc...Tal qual meu amigo prefiro outrar-me e virar uma besta.

Ontem durante o dia senti vontade de olhar as bancas, passear pelas primeiras páginas. A noite, visitei o horário eleitoral gratuito...

...Nos jornais nada vi de diferente, mas no horário eleitoral gratuito senti orgulho de ser brasileiro tamanho é o crescimento e o desenvolvimento alcançado por este gigante que acorda e ruge e que por andar querendo aculturar-me não havia percebido: Não havia percebido o Brasil que FHC deixou de herança para Lula, não havia reparado o Brasilsão que Lula vem preparando a caminho do futuro independente e salutar de nossa sociedade. Querendo ser inculto e cego, com medo da luz que ofusca, não havia percebido a grandeza do Estado de São Paulo, preparado, organizado e embelezado por Alckmim. Fiquei comovido ao ver a bóia fria agradecendo ao governador pela mudança radical em sua vida e na de seus filhos, que sofriam pela fome, pela miséria e pelo descaso das autoridades de Assistência Social. A declaração daquela humilde bóia fria soou, feito um badalo dos grandes sinos da áurea Idade Média: - Obrigado Geraldo por ter nos dado uma vida digna.

O que é fato é que eu deveria mesmo ter ficado sem ver tamanha sacanagem. A tal ética que “ é centrada na ação voluntária e moral do indivíduo “ , está absolutamente fora das conversas e discursos mostrados ao cidadão brasileiro, mais uma vez feito de trouxa no período de campanha eleitoral.

Existe uma briga dialética entre diversos filósofos a cerca do fato de existir ou não diferença entre Ética e Moral. Alguns vão até a etmologia para tratar do assunto, outros citam Aristóteles que separou a Ética da Política e daí traçam comparações, Kant também é usado por conta de defender a unilateralidade dos conceitos: “ Afinal existe uma diferença substancial entre Ética e Moral? Uma distinção muito comum usada por diversos autores contemporâneos é a de que moral é o costume, os valores instituídos e vivenciados, isto é, o conjunto de normas, preceitos, regras de conduta. A simples existência da moral não significa, naturalmente, a existência da ética, no caso entendida como a teoria, a reflexão, a interpretação e fundamentação da moral. Os problemas práticos, as normas de ações concretas são os elementos que identificam a moral. Por sua vez a ética é a teoria, a ‘ciência’ que fundamenta e justifica os princípios gerais de caráter teórico, como por exemplo o que é o bem?” Revista Ética & Filosofia Política (Volume 6, Número 2, Novembro/2003)

Quem está certo eu não sei, apenas gostaria que Lula explicasse como alguém paga suas dívidas sem o seu consentimento e os demais fatos que o porco do Roberto Jefferson, espanou. Isso entre outras pendengas. De Alckmim, seria muito bom ouvir a verdade a cerca de como chega a ser real a situação de violência urbana em São Paulo e também por que escolas andou estudando a bóia fria que em depoimento ao seu programa de campanha, nos deixa recheados de orgulho.

Entre a Ètica, a explicação, a essência, o âmago do sentimento e a Moral, a execução e a prática usual da ação, está o povo, esmagado e enganado como sempre: E ainda é preciso falar das alianças que surpreendem a ética e a moral partidária, do Coronel que na tentativa de cessar a extorsão é exonerado, Da troca de acusações entre os candidatos, Do discurso antigo e arcaico da Heloisa Helena, como se o mundo não houvesse mudado e não ditasse determinadas regras econômicas que chegam a ser supra nacionais, Da Arrogância do Poder norte-americano, do PCC, Do enfrentamento do Hezbollah ao imperialismo bancado pelo Tio Sam, de Israel, Da inclusão de novos planetas, companheiros e vizinhos, no Sistema Solar...

Ufa! Já que a esquerda mundial se perde e caminha a passos rápidos em direção ao centro, fazendo o que é necessário para ter o poder e preocupando-se apenas com isso, sem conter o avanço e sem esclarecer que o mosaico da ética contemporânea atende somente aos interesses pessoais e/ou de grupos, parece que só há uma ética de resistência a se saudar e desejar saúde nos dias de hoje e ainda assim com várias restrições:

Saúde comandante Fidel.

Sylvio Neto
Enviado por Sylvio Neto em 29/08/2006
Código do texto: T227934