O COMETA

O COMETA

Maria Teoro Ângelo

Quando o cometa Halley apareceu em 1910 minha avó tinha dez anos. Contava que a cauda dele tomava metade do céu e ao anoitecer, lá na roça, ela ficava alvoroçada para ver o fenômeno. Meu bisavô a levava para dentro de casa, porque não sabia em que medida aquilo poderia afetá-la.

Em 1986 minha avó tentou rever o cometa. Não viu, ninguém viu. À noite, íamos em caravana para fora da cidade na esperança de que, afastados das luzes da cidade, pudéssemos ver o tal cometa. Eu me esforçava tanto, que chegava a “vê-lo”. Alguém me alertou que eu estava olhando para o lado errado; deveria olhar para outro ponto, perto das Três Marias.

Não sei se consegui ver o novelo enfumaçado que descreviam. Não sei se quem dizia estar vendo, via de fato. Sei apenas que o fato uniu as pessoas em torno de um mesmo assunto. Éramos solidários, uns guiando os outros para olhar na direção certa. Com facilidade cedíamos o nosso lugar, emprestávamos as lunetas ou outro instrumento que aparecia e que podia ajudar. Todos olhavam para o alto e olhar para o alto, dizem, afasta os fantasmas que prejudicam nossas mentes. Não vi o cometa, mas sabia que ele estava lá.

E resolvi, depois de tantos anos, a dúvida de meu bisavô. Sei em que medida o cometa me afetou. Admirei a Via Láctea, aprendi o nome das constelações, fiz novos amigos, pensei sobre a vida, questionei ideias e, principalmente, olhei rumo ao infinito. Abençoei meus estudos que me davam a segurança de acreditar, mesmo sem ver. E diante da imensidão do céu, do universo sem limites, eu pensei e me senti grande como sempre deveríamos nos sentir.

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