ACIMA DE NÓS, OS ASTROS

ACIMA DE NÓS, OS ASTROS

Maria Teoro Ângelo

Foi preciso eu ler numa revista, ouvir no rádio e na televisão e acompanhar nos jornais para saber o que estavam pretendendo fazer com o planeta Plutão. E fizeram. Não adiantaram as críticas, a voz dos defensores e nem o descontentamento de muitos. A intenção inicial foi mantida e Plutão perdeu o posto, foi destituído da posição conquistada há 76 anos de nono planeta do sistema solar.

Agora é apenas um planeta- anão, sem a grandeza necessária para fazer parte do clube dos nove. A ciência volta atrás muitas vezes porque descobre que não era bem assim, as verdades absolutas eram de fato relativas ou os cientistas resolvem mudar seu ponto de vista ou sua opinião sobre o que julgavam saber.

Quem sabia mesmo eram os gregos que fantasiaram histórias de amor e traição, de ciúmes e inveja e deram características humanas aos corpos celestes. O deus do sol era Apolo, que passeava pelo céu com sua carruagem de fogo. A Via Láctea era o caminho esbranquiçado pelo leite derramado da mãe que ia alimentar o filho quando criança. Plutão era o deus dos mortos e Caronte, o barqueiro que transportava os mortos, cobrando uma moeda pela passagem para o mundo de lá. A mitologia grega foi uma preciosidade sem tamanho que soube explicar de um jeito fácil tudo o que temos dificuldade para compreender.

De tanto olhar o céu, começaram a juntar estrelas,dar nomes às constelações. A observação visual permitia sonhar, imaginar esses seres cobertos de mistérios , incompreensíveis na sua grandeza , inatingíveis na distância que os separa de nós. Depois com os telescópios ficou muito mais fácil se intrometer na vida dos astros, classificá-los , mostrar a sua face ou levantar hipóteses com mais segurança.

Mas quem de fato interfere em nossa vida são eles, os astros. Eles têm grande poder sobre nós . Os povos primitivos adoravam o sol , a lua e as estrelas. A Lua, além da influência sobre as marés, determina a poda e o plantio, o corte de cabelo, profetiza nascimentos e o sexo dos bebês. É fonte de privilégios para quem nasce voltado para ela. Apontar o dedo para as estrelas faz nascer verrugas e uma estrela cadente realiza nossos desejos. Uma estrela guiou os passos dos Reis Magos na caminhada até Belém. Acreditamos que os signos definem nossa personalidade e indicam a companhia ideal. Consultamos diariamente o horóscopo, pagamos pelo mapa astral que mostra a influência das posições dos planetas na hora de nosso nascimento. Desejamos viajar para outros mundos, já fomos à Lua e acreditamos que, quando descobrirmos os atalhos do universo, iremos para todos os lugares,no presente, no passado ou no futuro.

Por mais que os homens se julguem sabedores das verdades absolutas, que pretendam transformar a ordem cósmica através de dados que julgam dominar, tudo é muito maior do que se imagina e nenhum astro se curva ante as decisões terrenas, já que quem tudo sabe é o Criador.

Plutão continua lá no lugar onde sempre esteve, alheio às celeumas que decidem quem fica e quem sai. No fundo , no fundo, quem se considera mesmo o centro do universo é o homem com seu egoísmo, seu egocentrismo, olhando cada vez mais para baixo, para o seu umbigo, desprezando a Terra, que teima em destruir, desprezando o outro com quem teima em guerrear e desprezando as lições que o universo como um todo faz questão de mostrar a toda hora e principalmente todas as noites, quando os astros não se cansam de dizer que há coisas muito maiores do que a nossa vã filosofia.

29/08/2006