O JANTAR DA TERESINHA

O JANTAR DA TERESINHA

Maria Teoro Ângelo

O casal sentou-se atrás de mim. O ônibus seguiu viagem. Não pude deixar de ouvir a conversa que se iniciava: “ Teresinha, você já jantou, você está com fome?”

Dela, uma mulata de uns trinta e poucos anos, não ouvi resposta. Ele, um homem de mais de cinquenta, grisalho e franzino exercia um jogo de sedução que se percebe logo num caso de amor que se inicia. A viagem corria e eu atenta àquele material que viria a ser o assunto desta crônica.

“ Teresinha, você já foi a um rodízio? Quando a gente chegar, eu a levarei a um.” Teresinha muda. Talvez não fosse moça da cidade. Talvez tivesse morado a vida toda longe dessas modernidades.

O silêncio que eu ouvia era com certeza o olhar comprido e demorado que eles deviam trocar. Quem sabe um toque de mãos, algo puro vindo de um homem que só queria amar e ser amado.

“ Teresinha, você gosta de hambúrguer?” - e ele explicava o sanduíche. “ Você vai experimentar quando a gente chegar.”

Era a maneira que ele estava achando para agradá-la. Era um homem simples. Poderia estar vivendo uma aventura ou tentando refazer sua vida amorosa. Desajeitado nas armas da conquista, sem facilidades com as palavras, inseguro pela diferença de idade, sem mais opções para oferecer a ela, ele fazia um grande esforço em nome da paixão.

O sol ia se pondo e o ônibus continuava através do anoitecer. Quando o homem pressentiu que estava próxima a hora de descer, acuado pelo inevitável desfecho do tão prometido jantar, sem dinheiro suficiente e arrependido pelos arroubos que o fizeram prometer mais do que deveria, pressionado pelo fim da viagem, ele, pela última vez , sentenciou: “ Teresinha, quando a gente chegar lá em São José da Bela Vista, a gente come umas coxinhas.”