"Emoções"_*Adeus*

Emoções

Adeus

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..."Adeus, adeus, adeus

Cinco letras que choram

Num soluço de dor"...

MPB

Como é difícil dizer adeus! Talvez seja a emoção mais dolorosa, mais dilacerante, mais sofrida que tenhamos que dizer um dia. Adeus diz o tudo terminado, o todo findado. o final de linha, dos sonhos, das ilusões, o encerramento com a porta que se bate, nas trancas já passadas, sem podermos adentrar de novo, voltar, pois o adeus verdadeiro não tem volta, é o não do arrependimento que não ousa ofuscar.

Ao acenarmos um adeus, estamos finalizando aquilo que um dia começou, aconteceu e agora, num momento, num ponto final, apareceu, deixando um lastro de perda, de infinito, do hiato eterno e sem volta. Adeus, lágrimas incontidas, sofridas, guardadas, escondidas e derramadas no gesto de um silêncio, sendo uma lacuna do nada que aparece, o vão de um fim de estrada na encruzilhada dos nossos destinos.

Todo começar são flores, de múltiplos odores, de nuances escandalosamente nítidas e brilhantes, que nos ofuscam, nos acariciam a vida num viver trôpego de emoções díspares, de incontáveis belezas que a magia da natureza nos oferta. nos oferece, nos presenteia. Nem percebemos esta variante da felicidade acontecer, porque sendo aquilo que gostaríamos sempre de ter, foge-nos a percepção dela chegando, se avizinhando, nos cobrindo de amor, de sonhos nuns espasmos sacrossantos de emoções vibrantes e inenarráveis, estrondosamente habitadas no âmago do nosso ser, dos nossos corações.

Mas, quando do final, dos lenços acenados, das responsabilidades das despedidas, afundam no torpor dos "até nunca mais", fica dolorido, temido, sangrento, no esgar do nunca retornar, do acontecer do fim, das sem certezas de esperanças de um dia voltar. Esse adeus doi, muito quando dizem para gente, quando é direcionado a nós, quando o alvo nos pertence, quando temos que encará-lo, que engulí-lo, que digerí-lo até nossos corações se estropiarem de tristezas, mágoas e ressentimentos.

Aí nos vêm à memória, os históricos do que vivenciamos, do que sentimos acontecer, daquilo que fomos protagonistas, do que ilustramos nossos passados, nossas aventuras, nossos sonhos, nossos anseios, nossas ilusões. Então, choramos, escondidas, envergonhadas, infelizes daquilo que permitimos que acontecesse, daquilo que poderíamos ter evitado, para não nos sentirmos tão culpadas, tão assinaladas, tão infelizes.

Sendo o adeus um adeus, sempre aos olhos dos outros, somos as culpadas, as vilãs dos cenários montados, nos palcos das acusações, das premeditações, das injúrias, das maledicências. E temos que ouvir, sentir, engolir as palavras ferinas que nos jogam em cima, de dedo em riste, dedos, normalmente sujos e implacáveis nas acusações, mas pensando serem os protótipos da verdade, da justiça e se escondem com medo do retorno dessas palavras malsãs.

Aí, fico pensando na alegria e talvez no consolo daquilo que está acontecendo, ou seja, que a despedida, realmente, esteja se tranformando naquele alívio que está se projetando, aparecendo, fazendo-nos ver que, o que estão nos oferecendo seja o final de todos os dissabores, das melancolias, dos desamores, que seja, enfim, o final do tunel, na luz das nossas esperanças novas e alvissareiras, surgindo...

No adeus do nosso amor, nas despedidas que ouvimos, sentimos, dilaceram-se em dores, daquelas expectativas que criamos, que nos iludimos, que acariciamos em nossos corações, sôfregos de paixão, amor e felicidade. Dói muito, demais da conta, esgarçam-se esperanças naquelas esperas de janelas futuras, de emoções desenfreadas. É indescritível aceitarmos essas despedidas, esses fingidos outroras, que agora num momento vêm como a morte nos ferir, nos levar pra longe emboladas nos destroços de nossas ilusões.

Nos lenços das despedidas, em que acenamos adeus ao trem que está partindo, levando nossos sonhos, nossos anseios, nossos pretensos futuros, esgoelam-se em tons molhados, encharcados de dor, de agonia, no torpor do nada, daquilo que está se esvaindo. Estão soluçantes nos apitos da despedida, desse trem das expectativas, das ironias agora conhecidas.

Sejamos as heroinas dessas lamentações. Sejamos dignas dessas intempéries que estão acontecendo, porque as calmarias vão aparecer e dias melhores hão de vir, coroando de arcoiris nossas vidas , dando-nos serenidade e compostura ao ter que enfrentá-las.

Nosso Pai, Nosso Senhor, sofreu na cruz para nos salvar. Que Sua Santa Cruz não tenha sido em vão, que saibamos honrá-lo nessa nossa vida terrena, que se esvai em exemplos, para serem copiados e respeitados, dignificando Sua Sabedoria de Pai, Extremoso e Bom...

Maria Myriam Freire Peres

Rio de Janeiro, 19 de junho de 2005

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 30/08/2006
Código do texto: T229158