O ANJO ZANGADO

O ANJO ZANGADO

Maria Teoro Ângelo

Dizem que cada um de nós tem seu anjo guardião. Eu ficava imaginando como seria o meu até que me deparei com uma imagem engraçadinha de um anjo criança, de asas enormes, sentado sobre as pernas, com as mãos segurando o rosto. O que mais me encantou é que ele estava emburrado.

Foi uma identificação instantânea. Agora tenho certeza de que meu anjo é assim, temperamental. Eu também gostava de fazer beicinho quando criança para conseguir tudo o que queria. Depois, não me eduquei o suficiente e ainda tenho meus truques e rio muito por dentro quando eles dão certo. Assim deve ser o meu anjo zangado. Só faz o que eu peço quando ele quer e olhe que anda querendo pouco.

Se quero me livrar de um problema, invoco-o baixinho, pois sei que ele vive atrás de mim. Com certeza, se ele estiver irritado, não vai me ajudar e me diz: vire-se sozinha. Eu então obedeço. Quando dá certo atribuo a mim os créditos da vitória. Quando dá errado, culpo o meu anjo de omissão. Assim vamos nessa queda de braço. Ele me empurra para a ação e eu vou sem medo, porque, se eu errar, tenho em quem botar a culpa.

Mas ele não é sempre assim. Muitas vezes, como sabe ler meu pensamento, faz tudo o que quero antes que eu peça. Sei que ele está de bom humor quando abre meus olhos para eu rir da vida, achar o mundo maravilhoso e as pessoas perfeitas, aceitar o doce e o amargo e o céu fechado ou límpido de sol ou de estrelas.

É um anjo danado. Diz para eu ser feliz e ri por dentro quando estou sendo e querendo ser para sempre. Anjo sabe tudo. Ele é a minha consciência e ela é o olho que me interroga todas as noites e me mostra e essência da verdade. Dela não posso fugir e sempre prometo começar o dia cheia de boas intenções.

Às vezes não dá. Coisa de temperamento. Mas sei que o meu anjo zangado me entende e como me entende! Afinal, somos iguais.