ENQUANTO O TRABALHO NÃO VEM

Que os meus chefes não fiquem sabendo e - se souberem - que sejam complacentes, mas a verdade é que gosto de escrever aqui, na minha mesa do trabalho. Desde que comecei a trabalhar, escrevi três contos, terminei um livro há séculos engavetado e já comecei outro. Sem contar o blog. O tempo que fiquei em casa não copiei nem receita do Anonymus Gourmet. Eu gosto é de escrever aqui, no meio de todo mundo. No meio dos ruídos e do vai-e-vem. Dos gritos e das risadas. Das conversas e das discussões. Do silêncio deliciosamente quebrado pelo "teclar" nos computadores.

Sozinha em casa, no quarto, em paz absoluta, não sai nada, nem adianta tentar.

Sozinha no parque, em meio à natureza, ao som dos pássaros, nem se baixar um santo escritor.

Sozinha na beira da praia, em frente a o mar, com o vento nos cabelos, no máximo eu choro de emoção.

Para que eu escreva, para que eu tenha uma idéia, para que brotem histórias da minha cabeça feito capim, eu tenho que estar no meio das pessoas e de suas vidas, tenho que sugar seus pensamentos, absorver seus sonhos, captar suas existências. Tenho que escutar suas piadas por piores que sejam, anotar seus dramas por mais mexicanos que soem, conviver com seus jeitos por mais normais que pareçam. Porque apenas parecem. De perto, bem de perto, normal é ser totalmente louco.

Gosto de escrever no trabalho porque é uma forma maravilhosa de escapar. Quando estou em casa, tenho o aconchego; no parque, a introspecção e na praia, o infinito. Quando estou no trabalho, naquele ambiente que as pessoas costumam considerar insípido de tão impessoal e vivendo aquele tempo considerado morto de tão inexpressivo para o que julgamos ser vida, tenho minha mente e minha mente não vê paredes, não entende horários, não produz stress.

Gosto de escrever no trabalho porque me mantém sendo o que sou por direito: minha própria chefe.

Mulher de Sardas
Enviado por Mulher de Sardas em 09/06/2005
Código do texto: T23301