O ANJO TORTO

O ANJO TORTO

Maria Teoro Ângelo

Desprovido de felicidade, Teófilo viu as trevas tomarem conta de sua vida. Chamou então seu anjo protetor e pediu que ele intercedesse junto aos céus para que fosse modificada tão aflitiva situação.

O anjo o atendeu e levou o pedido. O homem queria a felicidade e ele a teria. Assim, não iria mais sofrer. Marcaram para a semana próxima a entrega desse pacote de dons que lhe resolveria a vida.

O sofredor esperou ansioso pelo milagre iminente. Confiante, porque de palavra de anjo ninguém duvida, ele começou a gastar por conta a felicidade vindoura. Encheu-se de ânimo, achou-se capaz, sentiu-se forte e suportava as aflições já que elas iriam acabar na semana seguinte.

Trabalhava com afinco, recuava com gestos de humildade, enfrentava a vida com coragem e não se abalava diante de nada. Afinal, tudo iria se acertar. Foi feliz por antecipação.

Quando chegou a semana marcada, o anjo não lhe trouxe a encomenda. Teófilo entrou em contato com os céus e lhe garantiram que, dali a alguns dias, não haveria erro. A felicidade seria entregue. E ele foi levando a vida.

As semanas passavam e o anjo garantia sempre para a próxima, para logo e de logo em logo o homem foi vivendo dessa espera. Em momentos muito críticos o anjo vinha em seu socorro. E, de pequenos em pequenos milagres, muitos deles realizados sem interferência alguma, o homem foi sentindo mudanças em sua vida.

Sempre ancorado na promessa do anjo, vivia cada dia como se fosse o último de seu tempo de infortúnio. Toda as noites Teófilo sonhava. Sonhava com o amanhã feliz, com um tempo sem amarguras e o anjo entregando-lhe a senha que abriria as portas da felicidade. Acreditava tanto e tanto, que era feliz por acreditar.

No dia seguinte nada e o anjo a dizer-lhe: “ Amanhã você recebe.” Então, o que valia o hoje, só o hoje? Que sofrimento não resistiria a um único dia? Era feliz como a criança que vai receber um presente muito esperado.

E a história se repetindo, ele confiando, e assim até que cumpriu seu tempo de vida. Viveu bem cada dia com a certeza absoluta de que o amanhã seria melhor. Viveu alimentado pela perspectiva do grande milagre, impulsionado pelo encontro com a felicidade, que, sem perceber, tinha conquistado por si mesmo.