OS PONTEIROS DA BALANÇA

OS PONTEIROS DA BALANÇA

Maria Teoro Ângelo

Uma das maiores preocupações na vida das pessoas é, sem dúvida, o excesso de peso. Quando a semana começa, isso vira questão de honra, de vida ou morte, de caráter. São pecadores falando mal de si mesmos, renegando o leitão que comeram no sábado e domingo, o churrasco das festas de comemoração, as cervejas que beberam, os doces com que encheram a pança e prometendo que de agora em diante serão mais racionais e se tornarão esbeltos e elegantes.

São decisões sábias e nada tem mais força e determinação do que as primeiras horas de um regime. Os ponteiros da balança são muito mais importantes que os do relógio ou de qualquer outro índice de medida. A fita métrica é analisada a cada milímetro e os menores números são as maiores provas de que, afinal, a vitória está chegando.

O entusiasmo inicial pode encontrar barreiras intransponíveis como um pudim de leite, uma taça de creme de chocolate com morangos, uma bebida gelada e tudo aquilo que tem mais gordura, caloria e açúcar do que a cartilha do bom senso indica e a bíblia dos gordinhos condena como o maior pecado: a gula.

Para aprender comer certo é preciso entrar na escola, aprender a lição e colocar em prática. O maior problema está na quantidade de porcarias que ingerimos. Já que não há meio pecado, a gente peca por inteiro e depois promete que amanhã tudo será diferente. Mas quem aguenta tirar da vida, para sempre, as coisas que dão um prazer enorme?

A solução é comer um pedacinho de vez em quando, devagar, devagarinho para durar por mais tempo a sensação. Todo mundo sabe o que deve comer. Frutas, legumes, verduras, pouca carne, muitas fibras, que peixe é bom, que os alimentos integrais são os melhores.

Que devemos comer sem pressa, mastigar direitinho cada bocado e fazer algum tipo de exercício físico diariamente pelo menos durante meia hora. E tudo o que é falado incansavelmente nas revistas, na televisão, nas conversas e dentro dos consultórios médicos.

Para que a força inicial se mantenha é preciso equilíbrio emocional, que inclui a felicidade, a paz interior, o bem-estar. Para conseguir podemos procurar dentro de nós, na ajuda ao próximo, na religião ou na humildade em aceitar a vida como ela é. Ter ainda um amigo fiel e um médico de confiança.

Meu avô foi um homem sábio. Viveu quase cem anos com saúde e excelente aparência. Caminhava quilômetros todos os dias e desde muito cedo foi eliminando por conta própria certos alimentos. Não comia manteiga, não tomava refrigerante nem bebida alcoólica, não fumava, tinha um gênio alegre e calmo e uma religião que o fazia agradecer cada dia como uma chance de aprendizado.

Depois das seis horas da tarde não comia mais nada e seu jantar era uma sopa leve tomada ainda com o sol alto nos dias de verão. Ele encontrou o tripé tão procurado hoje, tão glamurizado pela imprensa, tão aceito pela ciência: comida saudável, exercícios e fé.

Enquanto isso, temos de enfrentar, pelo menos uma vez por semana, a aferição do nosso peso. Antes do confronto é melhor pensar com a alma leve. Qualquer regressão no número significa que somos muito mais poderosos do que uns míseros ponteiros de balança.