A ARMADILHA DE LUCIA (BVIW)

Juan, nascido em Buenos Aires, apenas 29 anos de idade. Altivo, elegante, cara de paso doble, tinha, na carteira de couro legítimo, o suficiente para os cigarros, os tickets do metrô e para um café que gostava de tomar em um aconchegante barzinho na Calle Florida.

O olhar de Juan tinha o fogo do bandonion que o pai tocara. As mãos longas e os dedos finos de um pianista, pernas bonitas dentro da calça de linho azul marinho. Camisa em seda pura pastel. As pernas cruzadas com mais charme do que toda a Paris iluminada, mostravam meias finas combinando com a camisa e um sapato social preto e sempre impecável.

A fumaça do cigarro cheirava junto com o café. Ela olhava para o rapaz e via cenas sensualíssimas nas quais dançava um tango com Juan. Voltas e voltas, pernas entrecruzando-se e o rapaz encostando o longo e belo corpo ao seu.

A cada dia uma nova conquista, novos sabores, emoções que deixavam os cabelos de Juan ainda mais negros e brilhantes. Os olhos, mais dançantes.

A polícia encontrou os dois nus e abraçados. No assoalho, largados, um par de meias pretas e rendadas, uma calcinha vermelha. A perícia e, em seguida, o laudo: envenenamento.

Depois de uma tarde e mais uma noite de tangos e volúpias, ela colocara no vinho do brinde final uma dose do mais potente veneno. Deixou sob o travesseiro um bilhete assim: A MAIS FATAL ARMADILHA É A DO AMOR. AGORA SEREMOS UM DO OUTRO. LUCIA.

Na manhã seguinte, as ex-amantes do portenho foram olhar a mesa com as duas cadeirinhas. Choraram longamente enquanto pombos ciscavam na calçada indiferente. Veio um rapaz e sentou-se, cruzou as pernas e continuou ali até que a primeira das viúvas se sentou ao lado dele.

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O bandoneón foi inventado pelo músico alemão Heinrich Band (1821-1860). O nome original alemão bandonion refere-se ao sobrenome de Band. Foi criado para ser usado na música religiosa e na música popular alemã, em contraste à concertina, que era considerada um instrumento folclórico. Imigrantes alemães levaram, no início do século XX, o bandoneón para a Argentina, onde ele foi incorporado à música local .

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandone%C3%B3n

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Marília L. Paixão e todas as escritoras do BVIW:

Parabéns para todas as colegas de publicação da literatura virtual, uma das mais importantes manifestações de arte da época, pela movimentação em torno das letras. Assim, vocês se esforçam para imprimir qualidade à literatura de modo geral.

Estou convencida de que, neste momento da evolução humana e do processo civilizatório, manifestação artística alguma pode ser interpretada como um fenômeno específico e ilhado, representativo de apenas um pequeno grupo. O progresso da tecnologia e das comunicações nos aproxima. Não é mais possível alimentar tantos limites e possessões, somos gente e estamos todos no planeta Terra. Isto basta.

Sinto-me honrada, evidenciada e mimada pelo grupo BVIP, pois tem me demonstrado carinho e muita paciência.

Mais gratificada e feliz me sinto pela Taça de Bronze com a qual já fui agraciada e, agora, em meio a grandes escritoras, obtive o 3 lugar com a crônica Armadilha de Lucia.

Abraços e beijos