a propósito do Encontro de Coimbra...

os dias de nós na travessia do tempo são perfeitamente minguados...

...por isso, quando poeta ergue a voz e grita suas dores de alma, dir-se-ía que cada palavra é um dardo na monotonia hipócrita da sociedade.

da sociedade que se finge culta e acaba morrendo em cada trovão da ignorância, que, teimosamente, prefere viver das aparências, deixando na valeta do alheamento todos aqueles que, duma forma ou outra, a constroem com o seu talento, com a sua arte, com o seu trabalho.

sociedade que não respeita os seus obreiros, nem tão pouco lança os caminhos do futuro, nunca será digna do chão pátrio, onde quer que ele se delimite.

em Portugal os hábitos de leitura ficam muito aquém do conhecimento de todos aqueles que dando de si se esmeraram e esmeram nos caminhos da palavra escrita.

são inumeros os autores do passado e do presente que estão no alheamento da leitura da maioria dos Portugueses.

são muitos mais aqueles que guardaram e guardam o seu talento nas gavetas do silêncio, sem que a sua escrita alguma vez seja lida pelo brilho dos olhos de um leitor qualquer.

a falta de leitores e o cultivo do hábito de ler, aliados à ganancia do lucro imediato, dificultam a divulgação de autores que, com reconhecido valor, continuam a viver o anonimato, no desterro a que são votados.

se editar prosa não é fácil, editar poesia, salvo honrosas e dignas excepções, é extremamente dificil, se não mesmo, impossivel.

o Encontro em Coimbra de alguns poetas residentes em Portugal, que editam neste site, para além do convivio, troca de ideias e experiências, veio demonstrar, uma vez mais, o nível literário daqueles que escrevem poesia e continuam a viver na revolta permanente de lutar contra as dificuldades em editar.

aliadas a essas dificuldades, cruzam-se diversos interesses como sejam, entre outros, a distribuição, a divulgação das obras, etc., etc....

dir-se-ía que o sonho do poeta está perfeitamente manietado na imensa e complexa teia de interesses, onde, uma vez mais, o capital se levanta e decapita esperanças...

é nesta constatação que continua a sobreviver a ilusão de todos aqueles que sonham e escrevem sobre os esconsos e a realidade da vida, sobre os sentimentos, amores e desamores.

somos nós, fieis compradores de literatura, que acabamos por sofrer o alheamento daqueles a quem, indirectamente, divulgamos as obras editadas e ajudamos a viver...

somos nós que damos vida à literatura, enchendo as nossas estantes com histórias e poesias que dão força e alimentam a nossa existência...

somos nós que respeitamos e dignificamos o livro, fazendo dele uma janela aberta ao conhecimento, ao estudo, à formação e, sobretudo, à educação.

...sim, porque poetas e autores não compram livros, nem discutem encadernações, tão só e apenas, para serem o adorno final duma estante qualquer...

aliás, que interessa a encadernação se o conteúdo do livro for uma m...?

o Encontro de Coimbra, não foi uma "pedinchice" para apoios governamentais, como escreveu o leitor de determinado jornal, demonstrando, infelizmente, que não soube ler a noticia que criticou...

o Encontro de Coimbra serviu tão só e apenas para reunir pessoas de sentimentos abertos, que perfumam palavras, que têm voz, que sabem ser solidárias, que sabem permutar conhecimentos e experiências e que sabem gritar a sua revolta para que a sociedade seja mais leitora, que não ignore e oiça o que temos para dizer.

é isso que queremos. queremos ter eco!

é isso que reafirmamos.

...porque a nossa voz não se cala, nem se calará!

...e mesmo que estrangulem as nossas palavras, elas renascerão na voz livre de outro poeta

O Encontro de Coimbra não foi, seguramente, uma mera pedrada no charco da letargia...

o Encontro de Coimbra pode ter sido o inicio, o rompimento dum ciclo, para que as vontades se conjuguem, determinem e conquistem seu espaço.

...porque o mundo não pára. avança.

...e nós queremos voar um pouco mais além!