DORINHA VAI À GUERRA

DORINHA VAI À GUERRA

Maria Teoro Ângelo

Quando meu filho foi prestar serviço militar criou-se em mim uma expectativa de que o fato fosse causar um transtorno doméstico. Engano. Foi um tempo muito feliz de nossas vidas. O sargento era um homem simpático, amigo dos soldados, um grande líder, uma excelente pessoa. Nunca esqueceremos as reuniões festivas. Digo nós, porque as mães também prestam serviço militar. Levantam cedo, cuidam da farda e participam dos eventos.

Meu filho adorava o serviço militar, também chamado de Tiro de Guerra. Tanto adorava, que queria seguir a carreira militar e se tornar um sargento. Ganhou muitas medalhas, era cabo e monitor e, além do horário obrigatório, ficava por lá sempre que a faculdade permitia.

O sargento era um bom exemplo, um ótimo exemplo e eles se tornaram amigos. Meu filho se tornou um assessor direto e ajudava na arrecadação de fundos, no planejamento da quermesse e nas rifas para o melhoramento da instituição.

Deveres à parte, nesse meio tempo meu filho começou a criar uma coelha, a Dorinha. Dorinha estava comendo meus arbustos. Do chão até a altura de uns trinta centímetros não ficou uma só folha. Dorinha ficava solta e passeava pelo gramado do quintal.

Quando meu filho se levantava para o Tiro, não via a coelha. Ela só aparecia mais tarde. Não demos muita importância ao fato. Pensávamos que, talvez, ela ficasse escondida em algum canto. Assim foi o ano todo. A coelha sumia nas primeiras horas da manhã.

No final do ano, no último dia do curso, estavam todos os rapazes em formação, quando surge no meio deles a Dorinha. Estava armado o teste final. Tinham de capturar o invasor. Puseram-se todos a correr e foi muito difícil pegá-la. Prenderam-na sob uma caixa e ela esperou o fim do expediente.

Deduzimos então que durante a noite ela se escondia por baixo do carro e pela madrugada, pega de surpresa, ia para o Tiro e ficava escondida. Foi assim o ano todo. Dorinha também cumpriu o serviço militar e se tornou o primeiro ser feminino a fazer parte de uma turma, que mesmo sem ser convocado, cumpriu sua obrigação.