JUSSARA (BVIW)

Dobrou cuidadosamente e separadamente organizou as poucas peças de roupa e as colocou na pequena mala. Olhou-se no espelho, ajeitou o cabelo para o lado e passou um pouco de batom. Três da tarde fria. Lá estava na estação ferroviária. Aproveitou o tempo que faltava para a partida e revisou os objetos, documentos e tickets de viagem na bolsa. Abotoou o sobretudo e ainda verificou se os brincos estavam bem nos lóbulos. O rosto impenetrável, o corpo esguio, elegante. Coisa alguma lhe distraía a atenção. Em que pensaria? Talvez no destino, quem sabe nas paisagens da estrada. Podia ser nos acontecimentos recentes. Chegou o trem. Jussara abriu a bolsa outra vez e pegou o que necessitava para o embarque. O trem corria nos trilhos, a paisagem gélida e os olhos dela fixos não se sabia em quê. Ela e uma senhora de cerca de 70 anos estavam naquele vagão. A senhora parecia um boneco de cera. A viagem correu assim, muda. Cada uma para o seu lado, duas incógnitas. Depois de levar um tropeção na calçada, Jussara disse um palavrão. Em seguida não falou mais. “De costas para mim, não!”. O homem atirou na testa e correu pela estação, desaparecendo imediatamente. A polícia encontrou entre as peças da mala, a foto contendo uma dedicatória do amante de Jussara.